Nós e Eles

Nós acordamos aquela noite, ainda fria. Mas bravamente nos pusemos em pé. Ligamos a televisão, e os noticiários avisaram que estávamos acordados, em todas as partes do mundo.

Nos pusemos a olhar os céus, as estrelas, em alguns lugares a lua e em outros o astro-rei. Estávamos, alguns, apavorados, outros, felizes.

Uns sabiam exatamente o que fazer, outros não, então ficamos perdidos.

Eles, que desde o princípio nos observavam, decidiram que não merecíamos a companhia das outras criaturas que haviam em nosso mundo. Eram poderosos, inteligentes, arrogantes e levaram tudo.

Simples assim, sem explicações, sem motivações, sem justificativas.

Tudo Nos foi tirado. Estávamos sós, mas juntos. Resolvemos que o fato de estarmos sós em nossa esfera não era motivo para não ficarmos juntos.

Resolvemos, todos, fazer aquilo em que éramos melhores e nos pusemos a pensar. Pensar em uma solução para a situação, pois de repente não tínhamos mais nada, só problemas. Problemas urgentes para resolver. Água não seria um obstáculo imediato mas, e a comida. O que comeríamos?

Ainda tínhamos as plantas e poderíamos cultivar outras mais, e o que usaríamos para nutrir a necessidade de proteínas? A resposta foi nós. Afinal, morríamos aos milhões todos os dias. Mesmo assim, sabíamos que nossos mortos naturais não seriam o suficiente para alimentar bilhões. Mas o estoque era permanente, pois nascíamos aos milhões diariamente.

Percorremos nossas cidades, revisitamos nossas Academias, fomos fundo em nossas Ciências e com o passar dos anos, criamos novas formas de proteínas sintéticas, novas formas de vegetais. Afinal… pensamos.

Aí, tempos depois, Eles voltaram. Disseram que a punição que nos foi imposta não foi o suficiente. Podíamos vê-los nos céus, em suas astronaves bio-metálicas, sobrevoando nosso mundo. Ficaram um breve tempo pensando no que fazer, então pulverizaram algo em nossa atmosfera e com o passar dos dias, paramos de morrer.

Novamente outro dilema, não parávamos de nascer e não conseguíamos envelhecer. Nos voltamos mais ainda para a Tecnologia, para a Ciência. Eles voltaram de novo e de novo, cada vez com uma nova punição. Por tantas vezes que, um dia, quando estávamos também inteligentes e poderosos, decidimos usar nossas astronaves para não permitir que Eles voltassem. Afinal, Eles precisavam aprender.

Então, Nós nos tornamos Eles.

Um conto de Swylmar Ferreira

Imagem meramente ilustrativa e retirada da internet