Fantasticontos, escritos e literários

Blog para contos de ficção científica, literatura fantástica e terror

Entre cafés, chás e outras coisas mais


A manhã estava realmente fria, apesar do sol aberto. Eram sete e quinze quando Walter B. Hillstrong acordou e ele estava decidido a aproveitar ao máximo aquele feriado de segunda-feira. Levantou e foi direto para o banheiro “dar uma mijada” e de porta aberta ainda por cima. Não precisava se preocupar em ser visto pelos vizinhos, já que o prédio ao lado do seu havia sido demolido e no caso de ter alguém em sua cama… bem, isso já não acontecia há muito tempo.

Lavou o rosto e as mãos do melhor modo possível naquela água gelada e foi direto para a minicozinha do apartamento.

Água gelada de novo! Só que agora era para o fazer café. Minutos depois estava sentado na única poltrona existente no apartamento bebendo o líquido escuro, forte e fumegante, enquanto olhava pela janela da pequena sala para a praça que existia do outro lado da rua onde morava.

O lugar estava praticamente vazio, apenas uma mulher passeava com um cão e dois jovens se arriscavam nas barras de exercício da praça.

– Bem que eu podia descer e pegar um solzinho – falou consigo mesmo, mas olhando para a garrafa de café. – A coisa está feia mesmo, agora ando falando sozinho, com TV ou outra coisa.

Chegou a pensar em tomar banho, mas a água estava fria demais. Vestiu uma camiseta e uma calça de moletom e já ia saindo quando resolveu abandonar os chinelos do feriado e calçar um tênis. O único que tinha.

– Sou mesmo o cara do “um” – disse rindo dele mesmo – só tenho um disso, um daquilo. – E soltou uma gargalhada. Não tinha pena da sua situação, apenas achava seu estilo de vida minimalista engraçado.

Antes de sair parou na pequena sala e observou pela bilionésima vez a parede ao lado da porta, onde havia uma pequena estante e uma televisão antiga e ao lado muitos quadros pequenos. Tinha ao menos meia centena deles, representavam muitos momentos em sua vida. Ajeitou um deles, um bem específico que sempre gostou. Tinha orgulho dele.

– Hora do sol!

Chegou na portaria do edifício e não viu ninguém. Abriu a porta de ferro velha e pesada e saiu para a rua. Adorava feriados, pois o número de pessoas nas ruas diminuía substancialmente, assim como o número de veículos.

– Excelente – disse enquanto atravessava a rua larga sem o tradicional trânsito louco.

Tinha que aproveitar os raios do sol para se esquentar e também, como dizia sua última namorada, para ganhar vitamina D. Andou um pouco pelo lugar, passou pelo lago e ficou admirando um pouco o chafariz que ligava por um par de minutos a cada meia hora. Viu um grupo de pássaros nos arbustos esverdeados perto da área de exercícios, agora vazia, e continuou até a área das crianças que também estava vazia. Se esticou um pouco, tirou a parte cima do moletom e ficou se esquentando.

Quase dormiu de novo ao sol quando escutou uma voz zombeteira e risos.

– Cara, como você pode dormir com o sol no rosto?

Walter abriu os olhos com dificuldade devido ao sol, não ao sono que parecia não querer abandoná-lo, e viu a moça que fazia exercícios até há pouco tempo. Ela se sentou no banco de madeira ao seu lado e esticou um copo de papelão com café.

– O seu é puro não é? – disse entre risos.

– Como você sabe? – perguntou Walter apontando para o café.

A moça sentou ao lado de Walter e estendeu o café.

Ela riu e olhou alguns segundos o homem a seu lado antes de responder.

– É porque você toma café na cafeteria ali na esquina todos os dias nos últimos dois anos, Foi quando se mudou para cá, não é? – respondeu apontando para o lugar – e sei também que você mora no prédio aqui em frente; e sei que se chama Walter. Mas é só o que sei. O meu nome é Samanta Reis. Sam, para os amigos.

Walter estava rindo com a espontaneidade da jovem. Era linda, um corpão exposto na roupa colada de ginástica.

Se alguém notasse os dois pensaria que talvez ela fosse uma década mais jovem que ele.

– Agora eu sei que seu nome é Sam – disse ele sorrindo e bastante feliz. Não se lembrava de quanto tempo fazia que não namoricava uma mulher.

– Esse feriado vai ser complicado fazer as coisas – começou Sam – quero convidar você para mais tarde tomarmos um chá na cafeteria e bater um papo. Você topa?

– Claro – Walter respondeu sem pensar – e que tal um lanche pelas 14 horas, em vez de almoço, lá mesmo.

Sam continuava sorrindo, franziu as sobrancelhas ruivas, da cor dos cabelos, levantou e deixou o seu copo de café com creme na mão vazia dele e saiu. Olhou para trás quando atravessou a rua e acenou.

Walter seguiu-a com o olhar até onde sua visão alcançou, Ficou torrando no sol mais alguns minutos e depois voltou para casa. Finalmente, depois de tanto tempo tinha um “compromisso”. Não um encontro, pensou consigo.

Walter estava tão agitado que quinze minutos antes ele já estava sentado na cafeteria “guardando o lugar”. Desnecessário, já que o Café estava praticamente vazio. Das mesas que ficavam sempre cheias na calçada, apenas a que ele estava e uma segunda estavam ocupadas. Walter esperou por quase uma hora e já dava como certo o bolo, quando Sam chegou.

Tomaram o lanche em vez de almoçar e a conversa já ia tarde quando ela avisou que ia embora.

– Já está tarde e eu trabalho amanhã, disse a moça.

– Está não! Ainda é cedo – Walter segurou de leve a mão de Sam antes que ela se levantasse.

Ele tinha a sensação de que ela não queria ir embora e arriscou

Fique mais um pouco. Sua companhia é muito boa.

Ela o olhou seriamente e concordou com a cabeça antes de voltar a sorrir.

– Mas vamos tornar esse encontro – disse a palavra e sorriu para o homem à sua frente – mais interessante. Eu vou contar uma situação bem interessante que já aconteceu comigo e você conta uma situação interessante que já aconteceu contigo. Ou me conte algo que você ache muito interessante.

Olhou fixamente nos olhos do homem à sua frente.

– Só não pode mentir. Ou pode. Sei lá.

Sam ficou séria alguns segundos e logo voltou a sorrir.

Walter olhou para a mulher que flertava abertamente com ele.

– Minha vida é a coisa mais desinteressante que existe ou já existiu. Pode ter certeza. Ao menos para mim.

– Não acredito – disse Sam aos risos – Todo mundo tem algo interessante para contar… Vamos fazer assim – continuou ela – Eu conto o que eu acho que foi bem interessante e depois você conta o que você acha que foi interessante. Certo?

Walter apenas acenou positivamente com a cabeça.

Ficou observando enquanto ela se preparava para começar sua história.

Bem – começou Sam – pode parecer ridículo mas vamos lá.

Eu e meus pais tínhamos saído de férias junto com mais dois casais de amigos deles, cujos filhos eram meus amigos também, inclusive fiz faculdade com um dos rapazes, algum tempo depois.

Eu era mais jovem e aquelas eram as férias que minha família esperava havia um tempo.

Tínhamos ido para o litoral onde, um dos casais tinha uma casa, e alugamos outra casa grande, praticamente ao lado e na frente da praia. Daquelas pé na areia mesmo, sabe? – falou olhando para Walter – Era uma vila de pescadores que nem mercado tinha e depois de alguns dias acabou o que os coroas achavam essencial: cerveja. Ficou resolvido que iriamos ao mercado na cidade vizinha, cerca de cinco quilômetros de distância.

Eu e mais dois amigos havíamos saído de Bugre já no final da tarde para irmos até a cidadezinha comprar as cervejas e outras coisas. Não demoramos muito porque já estava escurecendo. Na volta para casa, quando passamos em frente a um velho cemitério, um dos meus amigos teve uma série de arrepios e começou a chorar. É estranho ver um cara de vinte anos chorar, assim do nada. Quando nos aproximamos de uma pequena ponte de madeira, esse amigo se levantou no Bugre e começou a gritar. Fez o irmão dele, que estava dirigindo, ir tão depressa que quase atropelou dois casais de jovens que pediam carona no meio da ponte. Eu olhei para os jovens e algo me gelou o sangue. Chegamos na casa e ele nem quis conversar, se trancou no quarto e eu só o vi na manhã seguinte.

Eu ainda estava chateada com aquela situação e fui perguntar a ele o que tinha acontecido. Ele ainda estava emotivo quando me disse que um ano atrás tinha visto um acidente onde um caminhão havia matado por atropelamento quatro jovens na velha ponte de madeira. Ele tinha visto os jovens pouco antes do acidente e naquela tarde, quando passamos na frente do cemitério ele os viu acenando e depois na ponte os viu outra vez.

Quer saber o que é mais estranho Walter? O mais estranho é que eu mesma os vi no meio da ponte, ensanguentados, gritando por socorro.

Sam parecia tensa, mesmo depois de alguns segundos enquanto observava o homem à sua frente. Então abriu outra vez um lindo sorriso e pediu mais um café.

– Que legal isso! Assustador! – Walter ainda estava surpreso.

Olhou para Sam que retribuiu o olhar seguido de um sorriso maroto.

– Aconteceu contigo…? – Falou que você era um pouco mais jovem? Impossível! – Continuou Walter que fez questão de elogiar a mulher, e também a história dela. – Agora é minha vez?

Sam meneou afirmativamente a cabeça.

– Interessante você contar algo de sua juventude. Acho que vou fazer isso também. Só que aconteceu há um pouco mais de tempo.

Deu uma risadinha que foi notada por Sam, que respondeu com outro belo sorriso.

– Como disse – Walter olhava a moça nos olhos – eu acho que na minha vida de hoje, pouco ou nada acontece de interessante. Mas posso lhe falar sobre uma história que aconteceu há muito tempo. É uma história tão antiga que há muito foi esquecida. Talvez você ache interessante.

– Quero ouvir essa história – respondeu Sam. – Você me deixou curiosa.

– Primeiro Sam, você precisa compreender que naquele tempo o mundo era bastante diferente do que é hoje e que a realidade cultural também o era, e também muito mais vasta, pois havíamos importado muitos ensinamentos de outros povos mais avançados que chegavam de diversos lugares e que eram por nós recebidos com muito respeito e de início por uma devoção exacerbada, diria eu.

Sam sorria.

– Já começou interessante – disse ela mordendo o lábio inferior e abrindo ainda mais o sorriso.

– Está me deixando envergonhado, mas vamos assim mesmo.

– Bem – continuou – como disse, isso foi há muito tempo.

Sam abriu os olhos para perguntar ou falar alguma coisa mas Walter tocou em suas mãos e deu um breve sorriso. Ela entendeu que era sua vez de ouvir, então ele continuou.

Estávamos no auge da segunda raça que surgiu neste planeta. A primeira raça havia escolhido o lado errado de uma guerra e simplesmente desapareceu. Agora vivemos na terceira raça que ainda está longe de alcançar o apogeu.

Essa segunda raça possuía avanços tecnológicos superiores ao que temos agora e conviviam “quase” que pacificamente com outras civilizações que haviam estabelecido colônias aqui.

Tudo começou com o rapto de uma das filhas de um embaixador Pleidiano. Um homem muito alto, cabelos loiros, nariz curto e de olhos bastante grandes. Alguns exagerados diriam que ele tinha quase três metros de altura, em nossa unidade de medida atual.

Aqui em nosso mundo naqueles tempos, como hoje, existiam milhares de cidades, mas apenas três delas tinham autorização de ter aqueles “embaixadores” como denominamos hoje.

Mas vamos lá. Certo dia o embaixador Pleidiano que se chamava V Delhar acordou e, como sempre, passou nos andares em que suas filhas dormiam. A mais velha ocupava o andar abaixo do dormitório do embaixador no torreão da família. Chamou por ela e como não teve resposta entrou no aposento,e constatou que ela não estava lá. Mandou então sua guarda procurar por ela.

Quando não a acharam no Torreão, desesperou. A riqueza de um Pleidiano eram suas filhas e ele tinha três, o máximo permitido. D Delhar era sua primogênita, mas ainda tinha Shi e Mai, além de dois filhos.

O embaixador começou por alertar as outras embaixadas do Conselho dos Nove, depois as outras embaixadas de mundos fora do Conselho e finalmente as autoridades humanas da cidade de Tantriz. Nos dias que se seguiram foi realizada a maior busca já vista na cidade e também nas mais próximas.

– Como era essa cidade? Perguntou Sam finalmente interrompendo.

Walter a olhou outra vez e soube que aquilo ia demorar mais que o previsto, mas, mesmo assim, respondeu a pergunta.

Tantriz era uma grande metrópole, não estava entre as maiores, nem era das mais antigas mas, era muito grande e possuía uma população em torno de onze milhões de habitantes, contando humanos e não humanos. Era a única das grandes cidades que possuía dois espaçoportos e também a única que ligava todos os sete continentes. Como todas as cidades modernas possuía as vantagens e desvantagens das grandes cidades e ainda por cima as principais embaixadas dos externos, como eram conhecidos os que eram de outros mundos, estavam ali.

A Governadoria de Tantriz sempre tinha muita dificuldade para impor a ordem a tantos tipos diferentes e para isso havia criado seus recursos de pessoal de segurança, a quem cabia fazer e ser a mantenedora da paz na cidade.

A segurança da Governadoria era dividida em duas agências: a chamada Segurança dos Cidadãos, que tinha setenta por cento do efetivo da segurança. O restante era composto pelos Controladores. Mas o que poucas pessoas sabiam é que a Controladoria também tinha seus melhores agentes inseridos em um grupo especial. Oito Controladores no total, um grupo interespécies, que geralmente estavam sempre muito bem armados e que normalmente eram chamados para grandes crimes.

O chefe dos Controladores, um externo cujo nome era Nam Oe, estava sendo muito questionado pelos embaixadores externos e principalmente pelas autoridades internas para que o caso de D Delhar fosse resolvido. Ele então mandou seus melhoresControladores, ogrupo de elite, para encontrá-la. Dentre eles, estava um dos melhores investigadores que tinha, um meio humano chamado Bresar.

Bresar era conhecido como o cão de caça dos Controladores. Sua mãe era de uma raça chamada Hayhannuee, uma das que não tinha embaixadas no planeta, mas que fazia visitas constantes aqui. Já o pai dele era um humano. Não havia distinção entre essas duas raças. Bresar era o único filho do casal e eles viveram aqui enquanto o pai era vivo. Depois da morte do pai, Bresar e sua mãe foram para Hayhannuee prime.

Bresar foi educado para ser um historiador como sua mãe, mas herdou certas tendências violentas de seu pai humano. Como historiador sempre foi um apaixonado pela cultura de seu planeta natal e nenhum lugar era melhor para aprender sobre qualquer coisa do que Hayhannuee prime.

A raça de sua mãe era conhecida por possuir grande longevidade e com o passar dos tempos e sentindo muita vontade de voltar para seu planeta natal, ele retornou para viver aqui. Quando voltou seus conhecimentos de outras raças e suas línguas abriram-lhe as portas para que ele ingressasse na segurança da Governadoria da cidade de Tantriz.

Era um início de tarde quando Bresar recebeu sua “encomenda”: achar a pleidiana e levá-la para casa o mais rápido possível.

A Governadoria fez uma reunião onde procurou explicar ao grupo de Controladores a importância de achar a moça rápido e com vida. Bresar, naquele instante, lustrava sua insígnia de Controlador, que tinha bordas escuras e uma estrela brilhante no meio.

Tinha adquirido o hábito de fazer aquilo diariamente. Seus parceiros de grupo diziam que era uma mania estranha, mas ele não se incomodava. Além disso, estava respondendo mentalmente às suas próprias perguntas, tais como: quem raptaria a filha de um embaixador? Como foi que fizeram isso? E principalmente, qual o motivo? Precisava descobrir as respostas a essas perguntas e sabia que isso seria essencial para encontrá-la. Não necessariamente nesta ordem.

A causa deste rapto em sua opinião era política. Ninguém tem o trabalho de raptar a filha de um embaixador se não tem nenhum interesse político.

Poderia ser monetária? Não! Todos sabem que pleidianos vivem de trocas. Aboliram dinheiro ou qualquer coisa que o valha há muito tempo.

A menos que…Não! Amor não. Os pleidianos raramente se envolviam em negócios ou em colonização conjunta com outras espécies. Amor? Era melhor descartar isso. Ainda mais alguém da elite pleidiana.

Desceu as escadarias do prédio onde ficava a Governadoria, um dos prédios mais antigos da cidade, e foi direto ao Móvel de Inteligência Artificial (MIA) que o aguardava. Os lugares onde os pleidianos, aí inclusos a família do embaixador mais frequentava foram divididos entre os Controladores. A ele coube investigar a embaixada.

A viagem foi rápida, desceu do MIA indo direto ao Torreão do embaixador Pleidiano. O local estava quase deserto com apenas um Guardião, cujo nome era Zilsser, que ficara como responsável pela edificação. O embaixador estava em segurança em uma nave pleidiana no espaçoporto de Tarsic, e inalcançável para eles. Bresar se identificou ao Guardião Zilsser e foi com ele olhar o lugar de onde a moça havia sumido. Andou por quase todos os andares, exceto naquele onde o embaixador trabalhava, e constatou, como esperado, que era superprotegido.

Em uma rápida conversa com o Guardião Zilsser, ele lhe confidenciou que normalmente o lugar era guardado por mais de dez guardiões e por um sistema de defesa com escudos de energia. A grande questão é que toda a região onde ficava o torreão sofreu uma pane eletromagnética na noite anterior e até aquele momento ninguém sabia a causa.

Pegou o comunicador e ligou para a inteligência da Governadoria e perguntou a hora exata do blecaute na região onde ficava o torreão pleidiano. Início da madrugada.

Já sabia o Como a moça fora raptada. O sistema de defesa dependia da energia da cidade, então ficou fácil para alguém ou alguma coisa entrar e levar a moça. O Motivo estava também muito claro: política. Descartara a segunda e terceira opções. Faltava agora saber Quem. Era sem dúvida o mais difícil.

Bresar saiu de lá e foi direto para a Governadoria. Precisava falar com Nam Oe e pedir acesso aos manifestos de carga e de cidadãos que saiam da cidade, mas foi negado. Apenas as autoridades dos externos podiam solicitar e nenhum deles estava lá. Nem mesmo quiseram atendê-lo por comunicação.

Como querem que o caso seja solucionado? Pensou. Será mesmo que querem? Eram perguntas que ele não ousava fazer. Então Nam Oe emitiu uma permissão para que Bresar fosse a Tarsic, que ficava em órbita estacionária acima de Tantriz. Lá ficava localizado o segundo espaçoporto.

A única coisa que o Controlador pediu a ele foi rapidez, pois os outros investigadores até ali haviam obtido pouco ou nenhum sucesso na procura, então nada de ir para casa descansar.

De aerotrilho que ligava a cidade de Tantriz à Tarsic a viagem levaria três horas no máximo, mesmo com uma subida helicoidal íngreme. A viagem no aerotrilho foi complicada pelo enjôo e pela falta de gravidade, até chegar na cidade, onde a gravidade artificial fez com que seu organismo se adaptasse. O MIA para ir ao espaçoporto estava esperando. Foi direto ao representante dos pleidianos e explicou a situação.

Ficou sentado em uma cadeira de metal, em um corredor largo esperando pela liberação. Sabia, entretanto, que era algo que simplesmente podia não acontecer. Estava a quase dois dias sem dormir e já sentia um enorme cansaço. Começou a pensar outra vez no motivo de se raptar uma jovem? É claro que haviam em certas cidades grupos que queriam a retirada dos externos do planeta, mas esse não era o caso de Tantriz.

Bresar acordou assustado com o pleidiano chamando. Foi informado que recebera uma autorização especial para olhar as telas de nanocarbono. Aquilo sim era uma raridade.

Sentou em frente a uma tela e viu surgir dezenas de linhas finas da máquina indo em sua direção e se fixando em sua cabeça. Em segundos estava na máquina. Verificou todos os manifestos dos últimos dias, viu também as imagens e vídeos do espaçoporto e do aerotriho que levavam a Tarsic, imagens das principais avenidas, ruas e entradas de edificações.

Nada! Ali já havia esgotado suas investigações. Precisava falar com o colega que investigara o espaçoporto principal de Tantriz. Não havia dúvida agora, se saíram da cidade com a moça, foi por lá.

A primeira atitude de Bresar ao chegar à Governadoria foi procurar Nam Oe, passar o relatório de suas investigações e saber as notícias de Hon, o responsável por averiguar o espaçoporto da cidade.

Infelizmente as notícias não eram boas, Nam Oe soube há pouco mais de uma hora que o Controlador Hon sofrera um atentado no MIA e falecera. Bresar percebeu ao ler o relatório que Hon também estava tentando conseguir autorização para ver os manifestos.

Nam Oe, devido à situação, designou para Bresar um móvel diferente. Designou para ele um Móvel de Combate Assimétrico (MCA) para que ele usasse durante a investigação. Bresar entrou no MCA e ficou pensando por alguns segundos o que fazer. Decidiu voltar ao Torreão do embaixador.

Bresar desceu do móvel e observou o Torreão. Já havia começado a ser desmontado. Era uma característica dos pleidianos, traziam tudo de seus mundos inclusive suas moradas. O fato do Torreão estar sendo desmontado significava duas coisas: ou V Delhar estava trocando de cidade, ou ainda que ele estaria indo embora e que em breve chegaria outro embaixador com outro Torreão.

Bresar acionou a MCA, o que permitiu a abertura do complexo, mas algo estava estranho. Onde estava o Guardião Pleidiano? Acionou sua defesa de Controlador e entrou no Torreão assim mesmo. Imediatamente começou a sua averiguação. Levou bastante tempo indo em todos os outros cômodos onde fez um escaneamento rigoroso, incluindo os dormitórios das três filhas.

Bresar descobriu um comunicador escondido. Um dos guardiões tinha um contato direto com o planeta principal de Pleiade. Isso certamente seria feito escondido do embaixador. E se a moça por acaso descobriu? As investigações tomariam um novo rumo que, provavelmente sairia da esfera dos Controladores. Seria ótimo, o problema seria exclusivo do Pleidianos.

Quando estava saindo, apesar da escuridão, percebeu que havia alguém que se colocara entre ele e o móvel. Era o Guardião Zilsser. O clarão do disparo do Pleidiano o atingiu fazendo com que voasse para trás. O Guardião Zilsser parecia exultante e chegou mesmo a rir alto e falar que era raro matar dois controladores em um só dia.

Foi seu erro. A IA do móvel julgou que as palavras do Guardião Zilsser eram uma confissão e o bastante para liberar o armamento com força total. Tudo automático.

Antes que o Pleidiano desse o segundo passo, Bresar disparou. A defesa do Guardião Zilsser era muito forte, mas não era páreo para aquilo. O disparo abriu um buraco no peito dele, desintegrando e cauterizando ao mesmo tempo. Bresar podia ver a surpresa no rosto dele. Abaixou os olhos para o ferimento e viu o móvel do outro lado. Em instantes o Guardião Zilsser tombou morto.

Bresar chamou a segurança da cidade e não permitiu a entrada de ninguém até a chegada do embaixador e do Controlador chefe. Eles viram o vídeo exibido pela IA. Todos entraram no Torreão, e dessa vez Bresar sabia exatamente onde ir: o cômodo usado pelos guardiões.

Acabaram por descobrir que o comunicador do Guardião Zilsser tinha mantido comunicação com outro equipamento pleidiano. Constataram que ele havia sido cooptado por um grupo rival ao embaixador. Mas não era só isso, o Guardião Zilsser era responsável por uma série de tarefas, entre elas cuidar dos rejeitos do Torreão.

Depois de examinar a IA do Torreão com a autorização do embaixador viram também que ele dois dias atrás havia remetido um volume duas vezes maior de rejeitos que o habitual para a unidade de recolhimento de Tantriz.

As conclusões sobre o desaparecimento da primogênita do embaixador foram que o Guardião Zilsser a havia sequestrado e eliminado. Provavelmente ela havia descoberto a conexão e pagara um alto preço por isso.

Apesar dos esforços da Governadoria da cidade, os resíduos do setor já haviam sido desintegrados. O corpo dela nunca foi encontrado.

O embaixador e suas filhas, depois de alguns dias, voltaram ao seu mundo e outro embaixador foi designado em seu lugar.

Bresar pouco depois retornou a Hayhannuee prime, mas sempre voltava ao seu mundo natal por se sentir melhor aqui.

Sam estava boquiaberta. Obviamente Walter não estava falando a verdade. Mas não era uma mentira também. Era um conto. Uma história. Mas sem dúvidas muito interessante.

A tarde chegava a seu final e o tempo esfriava rapidamente

– Muito legal essa ficção – falou de sobressalto mal deixando o homem terminar – mas ela termina assim? Perguntou Sam.

– Termina – disse Walter – mas tenho uma porção de outras para te contar. Vamos para minha casa que te preparo um chá e conversamos um pouco mais? Depois te levo para sua casa?

Sam sorriu, gostou do cara.

– Fica para a próxima… é muito cedo ainda bonitão.

Walter a acompanhou, afinal estava escurecendo, a deixou na portaria do prédio onde ela morava e voltou para casa. Chegou, esquentou um chá de noz moscada que estava pronto a dois dias e bebeu vagarosamente olhando para sua parede de quadros. Cada um tinha um significado, faziam parte de sua vida.

Foi até um dos quadros e retirou o objeto metálico que ele emoldurava, uma insígnia antiga. Tinha as bordas escuras e uma estrela brilhante. Pegou um lenço e sentou-se olhando o jardim à noite, enquanto a lustrava.

Um conto de Swylmar S. Ferreira em 06 de junho de 2020.

Imagem meramente ilustrativa retirada de pinterest

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Publicado em 9 de junho de 2020 por em Contos.

A saga de um andarilho pelas estrelas

DIVULGAÇÃO A pedido do autor Dan Balan. Sinopse do livro. Utopia pós-moderna, “A saga de um andarilho pelas estrelas” conta a história de um homem que abandona a Terra e viaja pelas estrelas, onde conhece civilizações extraordinárias. Mas o universo guarda infinitas surpresas e alguns planetas podem ser muito perigosos. O enredo é repleto de momentos cômicos e desconcertantes que acabam por inspirar reflexões sobre a vida e a existência. O livro é escrito em prosa em dez capítulos. Oito sonetos também acompanham a narrativa. (Editora Multifoco) Disponível no site da Livraria Cultura, Livraria da Travessa, Editora Multifoco. Andarilho da estrela cintilante Por onde vai sozinho em pensamento, Fugindo dessa terra de tormento, Sem paradeiro certo, triste errante? E procurar o que no firmamento, Que aqui não encontrou sonho distante Nenhum outro arrojado viajante? Volta! Nada se perde com o tempo... “Felicidade quis, sim, encontrar Nesse vasto universo, de numerosas, Infinitas estrelas, não hei de errar! Mas ilusão desfez-se em nebulosas, Tão longe descobri tarde demais: Meu amor deste lugar partiu jamais!”

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Bom dia.
Aproveito este espaço para divulgar o livro da escritora Melissa Tobias: A Realidade de Madhu.

- Sinopse -

Neste surpreendente romance de ficção científica, Madhu é abduzida por uma nave intergaláctica. A bordo da colossal nave alienígena fará amizade com uma bizarra híbrida, conhecerá um androide que vai abalar seu coração e aprenderá lições que mudará sua vida para sempre.
Madhu é uma Semente Estelar e terá que semear a Terra para gerar uma Nova Realidade que substituirá a ilusória realidade criada por Lúcifer. Porém, a missão não será fácil, já que Marduk, a personificação de Lúcifer na Via Láctea, com a ajuda de seus fiéis sentinelas reptilianos, farão de tudo para não deixar a Nova Realidade florescer.
Madhu terá que tomar uma difícil decisão. E aprenderá a usar seu poder sombrio em benefício da Luz.

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