Fantasticontos, escritos e literários

Blog para contos de ficção científica, literatura fantástica e terror

Sombria – Um conto de Glecio Ramos


 

Os gritos do velho pareciam rasgar as paredes da pequena sala de tão altos. Gárgula e Hércules o estavam torturando há duas horas e ainda não tinham conseguido nenhuma informação. Era crucial que ele dissesse logo onde estavam as baterias; estavam ficando sem tempo.

  Sombria, sentada em uma cadeira velha de escritório, esperava o show de horrores terminar olhando o brilho prateado da lua por um pequeno espaço da janela onde a poeira ainda não havia coberto o vidro amarelado. Estavam naquele armazém abandonado fazia dois dias, esperando a oportunidade certa para sequestrar um dos integrantes de um grupo de catadores que eles rastreavam há um tempo. Eles eram numerosos demais e, embora o grupo de Sombria estivesse mais bem armado, eram apenas quatro então optaram por uma estratégia diferente: capturariam um membro do grupo deles e o obrigariam a dizer onde estavam escondidas as mercadorias que tinham reunido. Roubariam tudo sem desperdício de munição. Sombria, de forma brilhante, havia roubado uma cópia do inventário deles. Entre muitas quinquilharias eles tinham uma mercadoria que valia ouro no mercado militar: 16 baterias bomba, provavelmente tiradas de naves de batalha abatidas pelo Exército Especial.

  Pegar o coroa foi fácil: depois que se afastou do acampamento para buscar água com outro cara mais jovem, Loki e Gárgula mataram o mais novo e levaram o outro que, embora de idade, estava em forma, resistiu mas acabou sendo dominado. Loki julgou que o coroa seria mais fraco e “vomitaria” a informação mais rápido. Ledo engano acabou que o velho se mostrou uma rocha e até agora não disse uma palavra.

  – O velho é duro na queda – falou Loki vindo da sala de tortura improvisada com um cigarro na boca – aposto que é veterano de alguma guerra.

  Loki fazia o tipo galã de filme de ação ruim: cara alto, queixo quadrado,  cabelo preto comprido com mechas caindo sobre os olhos e voz grave. Mas sua aparência constratava muito com sua personalidade explosiva, era um assassino frio que mataria a própria mãe por um maço de cigarros. Sombria não sabia o verdadeiro nome dele – de ninguém do grupo na verdade –, era uma das poucas regras que tinham: nada de nomes, eles criavam um vínculo pessoal demais para aquele estilo de vida. Todos se conheciam apenas por apelidos. Loki era o líder, Sombria era mais a recente da equipe e só podia imaginar o motivo de alguém cunhar-se com o nome do filho bastardo do deus nórdico Odin. Talvez fosse a tatuagem no antebraço esquerdo (embora esta pudesse ter vindo depois do “batismo”) ou, quem sabe, fosse uma referência a uma brincadeira, de muito mau gosto, que certa vez Loki arquitetou contra um pobre miserável que chamava de amigo: encheu de chumbo derretido o cano da pistola do homem que explodiu na primeira tentativa de disparar, cegando e desfigurando seu rosto.

  – Deviam ter trazido os dois – falou a garota sem desviar-se da janela -. Talvez o moleque e o velho tivessem algum vínculo que pudéssemos explorar.

  – Hum… Talvez – falou o outro soprando fumaça no ar -. De qualquer maneira, seria impossível colocar os dois na garupa da moto, gata.

  – Planejamos mal esse rapto, logo vai amanhecer e eles darão pela falta daqueles dois: vão sumir na poeira com as baterias.

  – Você se preocupa demais, Sombria – disse Loki imitando um tom irônico – se ele não quiser falar o matamos, vamos até aquele acampamento e tomamos tudo a força.

  – São vinte homens e mulheres lá, Loki. – retrucou ríspida a garota.

  – Agora são só dezoito – corrigiu-a balançando o cigarro entre os dedos em pinça na direção de Sombria, espalhando cinzas pelo chão já imundo -, e nem todos estão armados.

  Ela só balançou a cabeça em desaprovação. Queria muito aquelas baterias – poderiam trocá-las por muita comida e munição -, mas não morreria tão estupidamente por elas. Só restava uma coisa a fazer.

  – Posso assumir o interrogatório? – perguntou com expressão, motivo de seu apelido, sombria.

  Loki pareceu surpreso em ouvir aquilo, estava no meio de um trago quando parou e olhou sério para o rosto jovem da garota. Sombria costumava matar bem rápido quem precisava morrer, deixara isso claro quando conheceu Loki. Era esperta e furtiva e conquistou o respeito do grupo com muito suor e sangue. Eles não mexiam com ela e ela não cortava a garganta de ninguém, essa era uma das regras não ditas do grupo.

  – Muito bem, gata, faça o que tem que fazer, mas consiga aquela informação.

  Ela se levantou sem dizer mais nada, pegou seu fuzil FN SCAR pendurado no encosto da cadeira e foi até a sala. Quando abriu a porta viu Gárgula sem camisa socando o estômago do homem repetidamente, ele virou-se e fez Sombria se lembrar porque o chamavam assim: seu rosto tinha formas abrutalhadas e retorcidas, cheio de cicatrizes antigas e sua pele possuía uma textura estranha.

   Hércules estava em um canto da sala apoiado em uma parede. De tão quieto que estava um desavisado poderia facilmente confundi-lo com um armário esquecido no escuro. Seus braços enormes como troncos deixavam óbvio o motivo de o chamarem daquele jeito.

  – Tudo bem rapazes, deixem o resto comigo – falou Sombria sem se abalar com a cena.

  – Como é? – Gárgula pingava suor, sua voz era irritante – O que você quer?

  – Loki me deixou cuidar disso.

  O torturador soltou um grunhido de desaprovação, mas aceitou sem questionar. Sabia muito bem que deixar Loki nervoso era uma boa maneira de morrer, e desobediência o deixava muito nervoso. Pegou sua jaqueta e saiu rápido, Hércules o seguiu sem dizer nada, quieto como sempre.

  Assim que a porta se fechou, Sombria começou a analisar o homem amarrado na cadeira a sua frente: aparentava estar perto dos 60 anos embora o corpo robusto o deixasse mais jovem do pescoço para baixo, vestia apenas uma calça de linho coberta de sangue. Os hematomas estavam por todo o corpo, seu rosto em especial estava roxo e o olho esquerdo não se abria mais, de tão inchado. Dentes lhe faltavam na boca e Sombria suspeitava que o nariz estava quebrado.

  Se depois de tanta dor ele não cedeu, nenhuma tortura física o faria falar, mas, essa não era a intenção da garota, atacaria de forma mais sutil. O homem a fitava com seu único olho bom, não demostrava medo.

  – Você é bem resistente – falou Sombria aproximando-se dele – só não consigo entender por que aguentar tanto sofrimento para proteger sua mercadoria. Eu sei que aquelas baterias são muito valiosas, mas… Você está disposto a morrer aqui pra mantê-las escondidas?

  – Vocês… vão me matar de qualquer jeito – falou o homem com dificuldade.

  – Isso não é verdade. Não vamos matá-lo se simplesmente disser o queremos saber. Tem a minha palavra.

  Uma tentativa de sorriso se formou nos lábios do velho.

  – Quantos anos… você tem garota?

  – Dezenove.

  – Dezenove anos e… já carrega tantas mortes na consciência – o homem arrastava a voz enquanto falava -. Posso ver no seu olhar as vidas que tirou, mas vejo também o medo que tem… do mundo a sua volta.

  Sombria permaneceu em silêncio por um minuto inteiro, não pôde deixar de ponderar sobre o que o homem dissera. Tirou sim, muitas vidas desde muito cedo, mas todas elas eram justificadas pela lei da sobrevivência, pelo menos assim julgava. Retomou a conversa tentando guiá-la para outro caminho:

  – Quem era o rapaz que estava com você quando foi capturado?

  – O que isso importa? Ele está… morto.

  – Era alguém da sua família? Seu filho? Seu sobrinho?

  Ele não respondeu.

   – Eu sei muito bem que vocês, catadores, escondem os itens mais valiosos que conseguem longe do acampamento – continuou a garota chegando onde queria. – Você pode dizer onde é e salvar a sua vida e a vida dos seus companheiros. Porque se não disser, nós teremos que invadir aquele lugar e procurar por pistas. Sabe que pessoas vão morrer nesse processo não é? Você está disposto a sacrificar a vida de sua família por essas baterias?

  A voz de Sombria não mudou de tom em uma só palavra, ela sempre dizia tudo de forma que ficasse bem claro para que não houvessem equívocos. O homem a olhou agora sem esconder a raiva que sentia, sentimento que ficou impregnado em suas palavras.

  – Tem mais que apenas baterias lá.

  – O que mais tem lá?

  Ele calou-se de novo, Sombria percebeu que havia algo que ele não deveria contar, mas queria, acima de tudo, proteger aquelas pessoas. O velho sabia que o grupo dela era menor, mas tinha mais armas e estavam determinados a pegar aquelas baterias. Matariam muita gente se resolvessem invadir o acampamento.

  – Qual é a garantia… que eu tenho que vocês não vão matá-los por pura diversão? – perguntou fazendo uma careta de dor.

  – Gastaríamos recursos demais para acabar com vocês, talvez valha a pena por aquelas baterias, mas você pode evitar isso. Onde fica o esconderijo?

  Ele suspirou analisando as poucas opções que tinha. Se negar a falar faria com seu acampamento fosse transformado em um campo de batalha, talvez ganhassem mas, sofreriam muitas baixas. Ele podia dizer onde as baterias estavam e evitar a carnificina. Decidiu-se, então, acreditar na palavra da jovem de olhar sombrio.

  – No subsolo de um prédio a oeste de onde estamos instalados – ele hesitou completar a informação. – Nós… tentamos converter armas lá.

  – Conversão?

  Aquilo deixou Sombria estupefata embora não demonstrasse. A conversão nada mais era que transformar armas comuns com tecnologia alienígena para que cuspissem plasma em vez de balas. Essas conversões eram feitas com células de plasma recuperadas das naves destruídas ou das armas dos inimigos mortos. As células eram cilindros feitos de um metal com aspecto rochoso, um pouco maiores que uma pilha comum. Eram capazes de armazenar uma quantidade enorme de energia. Apenas um desses artefatos era capaz de abastecer uma nave de combate alienígena e seus quatro repetidores de plasma.

  O Exército Especial, com sua equipe de pesquisadores, de alguma forma conseguiu descobrir o segredo de como usar aquela impressionante fonte de energia. Depois do primeiro ano de invasão, uma cúpula reunindo os últimos governos ainda capazes de tomar decisões, deram carta branca para o, recém-criado EE, usar as poucas células de plasma que conseguiram recuperar dos sangrentos campos de batalha – que na época eram as grandes cidades – para criar uma arma capaz de deter o avanço das forças alienígenas. Depois de alguns meses de trabalho incansável dos cientistas, surgiram os primeiros fuzis e rifles convertidos que foram usados com sucesso pelas forças especiais do EE.

  A “fórmula” para a conversão foi passada para os outros centros de comando ao redor do mundo, mas, aparentemente, nem todos foram capazes de reproduzir o feito anterior: erros no processo mostraram a natureza explosiva das células que eram capazes de causar destruição em um raio de centenas de metros quando liberavam toda a energia contida, ganhando assim o apelido de baterias bomba. Com o constante fracasso humano em criar as novas armas, o exército extraterrestre continuava a devastação.

  Após três meses após a queda do último governo, o comando das forças do EE da Europa criou um míssil convertido com uma ogiva composta de centenas de células de plasma associadas. No começo da invasão, antes mesmo das duas naves-mães entrarem na órbita terrestre, os aliens desativaram remotamente todo o sistema de defesa dos principais países; destruindo toda a rede de satélites da Terra não houve a chance de usar qualquer arsenal nuclear. Mas, de algum modo, aquele centro de comando foi capaz de lançar o míssil.

  Sem dúvidas foi uma ação desesperada disparar uma arma de destruição em massa nunca testada em um objeto com centenas de quilômetros de extensão parado bem em cima da sua cabeça. Mas, contra todas as expectativas, deu certo: aquela fria noite de inverno virou dia por alguns segundos. A imensa nave-mãe com formato de pilar dobrou-se para dentro no local do impacto. Ficou completamente inutilizada. O objeto não entrou na atmosfera da Terra, em queda livre, como era esperado, continuou flutuando no espaço. Os aliens sobreviventes tiveram que abandoná-la atirando-se no planeta com pods de fuga, ou usando naves menores.

  A outra nave-mãe, no hemisfério oposto, tomou uma órbita estacionária maior, temendo o mesmo destino. Vendo a recuada extraterrestre, pessoas nas ruas comemoravam incrédulas, o que testemunhavam. Desde daquele dia o míssil devastador ficou conhecido como a arma do milagre. Mas não era o fim da guerra, os aliens foram surpreendidos por uma reação inesperada de seres que julgavam inferiores, mas não se renderiam facilmente. As tropas que já estavam na Terra continuaram os ataques, embora que com menor força.

  Sem mais governos restantes, os centros de comando do Exército Especial formaram uma espécie de coalizão militar para tomar decisões sobre o destino do conflito. Com o afastamento da segunda nave-mãe, as forças inimigas ficaram desabastecidas, foi a oportunidade para o EE de reconquistar territórios perdidos e, consequentemente, conseguir novas células de plasma. Esse cenário se mantém desde então: a segunda nave-mãe não ousou reaproximar-se novamente, enviando tropas e suprimentos a distância com muito mais dificuldade. Enquanto isso o Exército Especial fortalecia seu arsenal com novas células ganhas como espólio das batalhas vencidas, mas sofre com o baixo contingente de soldados com algum treinamento real de combate.

  – Não sabia que ainda existem pessoas tão idiotas que acham que podem converter armas – falou Sombria agachando-se para olhar nos olhos de seu interlocutor que pendia a cabeça exausto. – Você tem noção do perigo a que se submetem mexendo com aquelas células?

  Sim, eles sabiam. Mas eles não foram os primeiros, e nem seriam os últimos, a tentar fazer o que só o EE conseguiu, e obter lucros absurdos com a venda de armas convertidas.

  Nos postos de controle do Exército Especial era possível trocar as tão cobiçadas baterias bomba por comida, água ou outros itens, mas poucos tinham a ousadia de se arriscar pelas áreas de batalha para fuçar os destroços das naves de combate e contar com a sorte de encontrar uma célula deixada para trás pelos agentes do Exército.

  O velho pareceu estar a ponto de desmaiar. A garota resolveu encerrar a conversa.

  – Vou manter minha palavra quanto a não atacarmos o acampamento, mas o fato da conversão mudou um pouco as coisas. Não posso garantir que quem estiver no esconderijo na hora, vai sair vivo. Vai depender do quanto forem estúpidos para resistir.

  – Você queimará… no inferno – balbuciou o homem – antes de perder a consciência completamente.

  Sombria, ainda agachada, chegou bem próximo do rosto desfigurado do velho e sussurrou uma última frase como se acalentasse o sono do moribundo:

  – Já estamos no inferno.

 

 * * *

 

   O sol já ia alto no céu quando se aproximaram do prédio: tinha apenas dez andares mas parecia estruturalmente inteiro. Aquela parte da cidade não havia sido bombardeada o que permitiu que a maioria das construções continuasse em pé, salvo algumas casas destruídas por incêndios aleatórios criados por fogueiras de viajantes descuidados.

  Deixaram as motos duas quadras antes do seu destino seguindo o resto do caminho a pé, os catadores estariam no subsolo, mas nada impedia que houvessem atiradores de guarda nos andares superiores. Sombria foi categórica ao recomendar que mantivessem o elemento surpresa, provavelmente não haveriam muitas pessoas lá, mas com certeza tentariam resistir, teriam que acabar com tudo bem rápido.

  – Eu vou na frente – falou a garota preparando a arma. – Meu fuzil é o único suprimido, se encontrarmos alguém no caminho deixem comigo. Só atirem em último caso.

  – Como assim se encontrarmos alguém? – reclamou Gárgula impaciente – Acha que eles deixariam aquelas células sem proteção?

  – Calma Gárgula – era Loki quem falava tirando duas granadas concucivas da mochila. – Ela sabe o que está fazendo. Se esses merdas se sentirem acuados podem enlouquecer e resolver explodir uma dessas baterias, você não quer que essa bela vizinhança seja apagada da face do planeta não é? Principalmente quando você está bem no meio dela.

  Aproximaram-se pelo lado menos visível do prédio, saltaram o muro do estacionamento evitando o portão principal e desceram rampa abaixo. Obviamente não havia mais carros ali o que fazia do lugar uma área ampla e aberta, isso era bom: Sombria tinha uma linha de tiro quase limpa em qualquer direção.

  Tomaram a escada e chegaram sem problemas na parte subterrânea do estacionamento. Tudo em completo silêncio.

  – Acho que estamos no lugar errado – exclamou Hércules que cobria a retaguarda com sua shotgun automática.

  – Aquele velho nojento mentiu pra você Sombria – Gárgula vinha levantando essa hipótese desde que saíram do armazém. Não aceitava que a garota o tivesse substituído no interrogatório e, em alguns minutos, arrancado a informação que ele julgara impossível obter. – Devíamos ter matado aquele miserável.

  – Calem a boca e escutem! – Sombria estava atenta aos burburinhos vindos de uma sala a frente.

  Os quatro se aproximaram cautelosamente da porta onde uma placa verde os avisava:

 

   ÁREA DE MANUTENÇÃO. APENAS FUNCIONÁRIOS.

 

  As vozes eram todas masculinas, estavam exaltadas e pareciam discutir.  Sombria ajoelhou-se no batente na tentativa de captar algo da conversa.

  – Estou dizendo que os procuramos por toda parte – a voz estava ofegante e transmitia certa urgência. – Isso é muito estranho, Kamal não é de sumir assim.

  – Vamos manter a calma irmãos. Talvez eles tenham apenas se perdido.

  “Droga eles já sabem do sumiço do velho e do garoto”, pensou Sombria. Lá dentro a conversa continuava:

  – Helena pediu que eu viesse aqui para avisá-los para mudarmos de lugar o mais rápido possível – exclamou com ainda mais urgência a primeira voz.

  – Estamos sendo precipitados. Não sabemos o que realmente aconteceu com eles! – uma terceira voz falou.

  – Temos que agir agora – sussurrou Loki preparando as granadas – Hércules derrube essa porta ao meu sinal. Sombria vamos entrar atirando, ok?

  Ela assentiu. Preferia achar outra entrada e eliminar os inimigos um a um, mas estavam todos juntos e já planejavam uma fuga. Teriam que fazer do jeito barulhento.

  Loki tirou o pino das granadas enquanto Hércules se posicionava em frente da porta, assim que Loki deu a ordem ela voou com as dobradiças estouradas pelo chute monumental que ele deu. Com uma rapidez sincronizada o homenzarrão tomou cobertura na parede, ao lado de Sombria, para que as bombas fossem lançadas bem no meio do grupo dentro da sala.

  Os ocupantes do recinto não tiveram tempo para reagir ao arrombamento. As duas granadas explodiram simultaneamente emitindo uma luz intensa e um barulho tão alto que os deixou atordoados a ponto de alguns caírem no chão. O mais próximo da explosão teve escoriações sérias em várias partes do corpo.

  Sombria foi a primeira a entrar. Sabia que haveriam pelos menos três pessoas na sala, mas esperava encontrar mais do que isso. Ela entrou apontando para onde havia ouvido as vozes e lá estavam: dois homens perto de uma mesa de metal, ambos tapavam os olhos com a parte interna do cotovelo como se isso fosse curá-los da cegueira momentânea. Os dois foram mortos com tiros certeiros na cabeça.

   Outros quatro homens, em estado parecido, se contorciam de dor atrás de um grande balcão de madeira com algumas ferramentas. Sombria já se preparava para atirar quando dois disparos retumbaram pela pequena sala vindos da arma de Loki que entrava atrás da garota. As balas acertaram os alvos em cheio que caíram como sacos de batata no chão frio. Os outros dois catadores, ainda sob o efeito do atordoamento, se jogaram no chão por puro instinto, tentando buscar proteção atrás do balcão.

  Esses pobres-diabos tiveram a pior sorte. Gárgula foi o terceiro a entrar. Ele carregava a sua velha AK47 com carregador estendido e esvaziou todo ele – com um sorriso sádico no rosto retorcido – nos dois metros e meio do móvel. A madeira era grossa, mas durante aqueles segundos, pareceu ser feita de papel, sendo atravessada pelos impactos dos tiros. Sombria encolheu-se para o lado para não ser atingida pela chama voraz que o cano da arma cuspia com as balas que pareciam não acabar.

  – Pare com isso seu maluco!

  O grito de Loki não superou o grito da Ak47, mas esta pareceu obedecer o comando quando passou a emitir apenas cliques metálicos que pareceram sussurros no silêncio em que o lugar mergulhou. O pente esvaziou-se.

  – Qual é o seu problema seu demente? – Loki tomou o fuzil, que soltava fumaça, das mãos de Gárgula – Tem bombas na porra dessa sala, seu merda. Se quiser se matar apenas me diga que eu enfio uma bala nessa sua cara feia agora mesmo.

  Gárgula era alguém que transmitia medo, mais por sua cara de psicopata, do que pelas ameaças – que quase nunca cumpria – que espalhava por aí; porém, naquele instante encolheu-se como uma criança levada, pega fazendo travessuras. Teve sorte, Loki não costumava avisar quando ia matar alguém.

  Sombria nem precisou verificar se os homens estavam mortos, o sangue que escorria no chão por baixo do balcão já mostrava o óbvio.

  Hércules ficou do lado de fora dando cobertura, caso outros catadores viessem de outras partes do prédio.

  – Certo, vamos achar essas baterias e sair daqui rápido – disse ela.

  Loki, ainda visivelmente bravo com a loucura de Gárgula, empurrou a AK em seu peito.

  – Fique com Hércules lá fora dando cobertura. Não precisamos de sua insanidade aqui dentro.

  O outro saiu a passos largos retirando o pente vazio e enfiando outro cheio, que trazia no cinto. Não disse uma palavra sequer, temendo ser mau interpretado e acabar morto. Apenas obedeceu sem realmente se arrepender do que fez. Adorava matar, foi por isso que juntou-se ao grupo.

  Os dois reviraram gavetas, caixas e armários mas não encontram nenhuma das preciosas baterias bomba. Loki, que já estava irritado, ficou furioso quando derrubou o último móvel da sala.

  – Não tem célula nenhuma aqui, caralho! Eles devem ter levado tudo embora antes de chegarmos.

  Não faz sentido, se eles tiveram tempo de levar as baterias por que não foram embora também? – Sombria pensou.

   Aquele, de fato era um laboratório de conversão de armas. Haviam pistolas e fuzis desmontados além de desenhos detalhados das células de plasma e ferramentas bem estranhas que mediam energia e radiação. Sofisticado demais para um simples grupo de catadores.

  – Tem algo errado aqui – falou Sombria olhando em volta o lugar – esses equipamentos parecem ser profissionais demais.

  – É verdade, esses troços parecem valer alguma coisa. Pelos menos não vamos sair de mãos vazias.

  Ele não entendeu o que ela quis dizer, colocou na mochila um aparelho de tela verde com fios pendurados como tripas escapando de um corpo dilacerado. Sombria caminhou até os corpos atrás do balcão que ainda não tinham sido revistados. Um alarme em sua cabeça dizia para deixar aquele lugar imediatamente.

  Ela procurou nos bolsos das jaquetas encharcadas de sangue mas não encontrou nada além de cigarros e uma pequena garrafa de alumínio com um buraco de bala no meio, possivelmente continha cachaça, pelo cheiro. Sombria já ia se levantar e obedecer seu alarme pessoal quando, por um instante, desviou o olhar para a parte interior do tampo do balcão. O pedaço de um saco plástico preto escapava por uma fenda na madeira aberta por cupins.

  Sombria aumentou a abertura com sua faca e puxou o pacote que estava escondido ali. A silhueta não deixava dúvidas sobre seu conteúdo: uma pistola. Rasgando o embrulho ela pode ver que o modelo era uma glock G5. Analisando melhor, Sombria encontrou um estranho apêndice na parte inferior do cano, perto do gatilho.

  – Que porra é essa? – indagou ela.

  – O que foi… Caralho!

  A peça extra na arma era uma célula de plasma ligada ao carregador por um cabo de aparência futurista e a um pequeno botão vermelho. Sombria tinha nas mãos uma pistola convertida.

 

   * * *

 

  – Eles conseguiram mesmo converter uma arma – falou Sombria como se não acreditasse no que tinha nas mãos.

  O grupo já se dirigia para saída. Não encontraram mais nada além da pistola apesar de terem procurado em outras salas próximas. Não conseguiram outras células mas tinham algo melhor: uma Glock que disparava plasma. Conseguiriam um ótimo negócio se trocassem ela no mercado negro.

  – É isso mesmo minha deusa – a irritação de Loki havia desaparecido completamente com o achado. – E agora essa arma é nossa. Estou até pensando ficar com ela.

  – Não precisamos de armas convertidas, não vamos nos meter com aliens, não é? – disse Gárgula na retaguarda do grupo.

  – Você tem razão meu caro amigo – Disse Loki irônico – se bem que eu ia adorar estourar a cabeça de uma daquelas coisas feias com isso aqui.

  Sombria ainda estava com a estranha sensação de que tinha algo fora do lugar. E isso a incomodava cada vez mais.

  – Vamos testá-la. – Disse ela. – Precisamos ver se funciona mesmo.

  – Você acha que é falsa? – disse Gárgula.

  – Não, não acho que seja falsa, só quero saber se é igual as que o EE usa. Por caso você já viu alguma pistola convertida antes?

  Até onde eles sabiam o Exército Especial só tinham fuzis, rifles, repetidores montados e explosivos (que eram os mais fáceis de produzir) convertidos, nunca viram nenhum oficial com algo pequeno como uma pistola.

  Loki tirou a Glock da mochila e entregou a garota.

  – Ela, tem razão, o Exército Especial não tem essas pistolas. Tente não nos explodir, meu bem.

  Ela pegou a pistola com cuidado buscando algo que indicasse seu funcionamento. Ela já vira muitos fuzis com patrulheiros do Exército Especial mas nunca os viu em ação, não sabia até que ponto era parecido em disparar uma arma comum. Ela retirou o carregador e viu que haviam pequenos cilindros nele, eram do tamanho de balas comuns mas eram revestidas de um material parecido com um gel rígido, algo frágil demais para um disparo de plasma.

  Recolocando o carregador no lugar ela criou coragem e apontou para parede mais distante. Primeiro apertou o botão vermelho, nada aconteceu. Apertou então o gatilho, não houve disparo. Loki, que estava atrás dela, já se preparava para falar algo quando Sombria apertou o botão com mais força, dessa vez mantendo-o pressionando por dois segundos exatos. O zumbido baixo que a célula passou a emitir, acompanhado do brilho esverdeado das marcas em sua superfície, o fizeram recuar novamente.

  – Lá vai – disse ela antes de empurrar levemente o gatilho para trás.

  O rastro de luz esverdeada cobriu a distância entre ela e a parede sem causar qualquer recuo na arma. Se não estivesse olhando, Sombria não teria acreditado que realmente disparou algo. Foi uma ideia inteligente mirar em algo longe deles, caso contrário, teriam sido todos atingidos pelas lascas de concreto lançadas no ar quando o plasma atravessou a parede como uma agulha atravessa o tecido.

  – É verde! – Gárgula exclamou surpreso – essa merda é verde.

  A surpresa era explicada pelo fato de que todos os disparos de plasma que eles haviam visto até hoje eram azuis, com algumas variações de tom nas versões do EE, mas nunca verde.

  – Deve ser um novo modelo – brincou Loki – isso deve valer uma fortuna.

  Sombria não estava tão certa disso, olhava pensativa para a arma deitada na palma de sua mão. O alarme em sua cabeça, que antes falava alto, agora gritava a plenos pulmões.

  O assobio rápido de Hércules interrompeu seu devaneio. Ele estava na rampa por onde entraram, montando guarda. Fez sinal para que fizessem silêncio e se aproximassem. Sombria guardou a pistola no cinto e engatilhou seu SCAR, caminharam rápido até o gigante que estava com a testa encharcada de suor.

  – O que aconteceu grandalhão? – perguntou Loki tomando a parede com cobertura.

  – Dois jipes do EE. Oito soldados bem armados bem na nossa frente – relatou Hércules sem meios termos.

  Sombria espiou pelo canto da parede e viu os dois veículos atravessados na rua com as portas abertas. Um deles carregava uma metralhadora montada .50 na traseira, com um soldado procurando por alvos. Os outros caminhavam para o prédio carregando seus fuzis convertidos. Mas o que a deixou mais apreensiva foram as boinas azuis e as abraçadeiras – da mesma cor – que todos usavam.

  – São das forças especiais. O que fazem aqui? –  perguntou ela mais para si do que para os outros.

  – Não sei e não quero saber. Vamos achar outra saída.

  Nem passou pela cabeça de Loki enfrentar o grupo. As forças especiais do EE eram formadas por militares de verdade, bem treinados e cruéis. Se descobrissem que tinham uma pistola convertida, fariam perguntas que ninguém saberia responder e acabariam com as cabeças explodidas por disparos de plasma.

  Voltaram rápido por onde vieram, subiram a escada de incêndio que dava para o saguão de entrada e acabaram sem saída: a porta estava presa. Já podiam ouvir os passos dos soldados do outro lado então não puderam fazer barulho para arrombá-la.

  – Vedat não deveria estar aqui para nos receber? – falou uma voz grave no saguão.

  – Aquele merda deve estar bêbado de novo. – respondeu outra voz ainda mais agressiva. – Vocês dois desçam lá e acordem aquele beberrão a pontapés.

  Era tarde demais para voltar para o estacionamento. Os quatro se entreolharam. Não tinha jeito, era matar ou morrer. Se posicionaram na escada com as costas na parede de forma que ninguém ficasse na linha de fogo do outro, o que era bem difícil naquele espaço confinado. A porta foi forçada, mas ninguém atirou, ainda tinham esperança que não conseguiriam abri-la pelo lado de fora e procurariam outro caminho, mas a sorte não lhes sorriu dessa vez. Um filete de luz solar entrou pela fresta que se abria. Aquilo funcionou como um sinal verde para Loki.

  – Atirem!

 Uma saraivada de balas transformou a porta metálica em uma grande peneira. Cada buraco aberto fazia com que o corredor se iluminasse ainda mais. Os disparos cessaram e Loki deu outra ordem.

  – O que estão esperando voltem agora. Nossos tiros atravessam metal mas os deles atravessam paredes. Corram!

  Sombria não esperou que ele terminasse a frase, já pulava de três em três degraus em direção ao estacionamento.

  Gritos de dor vieram de trás da porta, depois mais gritos, desta vez de raiva, e então passos pesados em direção às escadas.

  – Não temos para onde fugir – gritou Hércules tentando ser o mais ágil que seu corpo enorme permitia. – Vamos lutar.

  – Sem chance. Eles são muitos – falou Sombria sem olhar para trás – vamos nos afastar enquanto estão surpreendidos.

  Quando finalmente chegaram no estacionamento, se deram conta do tamanho da encrenca em que se meteram: estavam em campo aberto, em menor número e com armas inferiores.

   – Loki, ainda tem alguma granada – falou ela se escondendo atrás de um pilar.

  – Não, só tinha duas.

  – Eu tenho uma de fragmentação – gritou Gárgula atrás de outra pilastra.

  – Ótimo, jogue na escada quando ouvi-los chegando, e todos corram para os becos. Aquele jipe não vai poder nos seguir lá.

  Gárgula não foi paciente o suficiente para esperar que seus perseguidores se aproximassem mais, e lançou a granada pela porta aberta.

  – GRANADA! – Um deles gritou. – Voltem porra.

   Sombria manteve sua dianteira na corrida pela sobrevivência e correu em direção à rampa de saída. Se tivessem sorte o soldado na metralhadora montada não estaria com o cano apontado na direção por onde eles sairiam. Mas ela não pretendia contar com a sorte dessa vez. Tinha uma carta manga. Tirou do bolso da jaqueta uma granada de fumaça caseira que ela mesma fabricara, mas não seria precipitada como Gárgula, esperaria o momento certo.

  Loki a alcançou correndo à sua direita e logo atrás, à sua esquerda, Hércules bufava como um touro furioso.

  Os segundos perdidos pela pressa de Gárgula com a granada se mostraram valiosos quando os homens do EE apareceram na porta enquanto ainda estavam na metade do caminho a ser percorrido. Nenhum deles foi sequer ferido pelo explosivo. Começaram a disparar sem a intenção de economizar munição.

  Os feixes azulados passavam bem ao lado de Sombria e dos outros fazendo um zumbido estranho enquanto cortavam o ar.

 – Puta merda! – praguejou Loki.

  Colocando-se atrás dos pilares enquanto corria, Sombria tentava não ser um alvo fácil demais para os atiradores quando ouviu mais tiros, tiros de uma arma comum, tiros de uma AK47. Olhou por cima do ombro e viu Gárgula parado atirando com o fuzil na cintura como um mafioso dos anos 1930.

  – Olha aqui pra vocês seus cuzões! – gritou ele com olhos arregalados.

  Ninguém parou para dizer “corra seu maluco, apenas corra” até porque não houve tempo. Sombria estava bem na frente mas, mesmo a distância, pôde ouvir o gorgolejar do sangue escapando das dezenas de pequenos buracos no peito dele, depois o baque do corpo caindo no chão.

  De certa forma aquilo serviu como a distração que Sombria queria. Por valiosos segundos os soldados se concentraram no único alvo que devolvia fogo, enquanto os outros já ficavam longe demais para um tiro certo.

  Quando saíram do prédio, saltaram o muro sem perder tempo, só então Sombria jogou a granada de fumaça na rua. Não conseguiriam uma cobertura total com aquele pequeno artefato caseiro, mas, ainda assim, era melhor do que atravessar a rua como uma família de patinhos saindo do lago.

  Antes de entrar na nuvem branca de cheiro pungente, Sombria olhou na direção onde deveriam estar os jipes e o resto dos soldados, porém, só viu um veículo vazio, o outro com a .50 havia sumido. Ela não se deteve. Atravessou a fumaça e entrou em um  beco, estreito o suficiente para tocar as paredes se abrisse os braços, entre os dois edifícios da frente.

  – Continuem, as motos não estão longe. – Falou Loki pingando suor.

  Quando estavam quase saindo do beco, Sombria entendeu o por quê do jipe armado não estar onde deveria: o veículo deu a volta no quarteirão bloqueando a saída da viela e agora estava bem na frente deles. A metralhadora, já na direção do grupo, foi acionada cuspindo dezenas de balas por segundo.

  A garota pensou rápido e jogou as costas contra a parede se encolhendo em um vão na parede. Loki a imitou buscando abrigo na parede oposta, mas Hércules não teve como se proteger. Paralisado pela surpresa, o gigante encarou o cano da monstruosa arma, a apenas trinta metros de distância, antes de ser atingido várias vezes. Gotículas de sangue sujaram a jaqueta e rosto de Sombria, maculando a pele alva da garota.

  Quando Hércules caiu agonizando o soldado cessou os disparos apenas para recomeçar esmigalhando a parede onde Sombria se espremia, retraindo o peito na tentativa de diminuir-se ainda mais.

  – Estamos fodidos, gritou Loki por cima do barulho dos tiros, o outro grupo vai nos encurralar.

  Aquele aviso só serviu para atrair a fúria da .50 sobre ele e desse algum tempo para Sombria pensar melhor, se é que isso é possível na situação nada confortável em que se encontrava.

  Talvez estivessem mesmo fodidos mas ela estava disposta a foder com alguns deles antes de cair. Lembrou-se da pistola convertida no cinto. Sacou-a rápido apertando o botão para ativar a célula.

  Disparou a arma seguidas vezes apenas esticando o braço para fora da cobertura, era fácil operar uma arma que não tem recuo algum. A metralhadora no jipe se calou quando os rastros de plasma atravessaram o veículo. Era impossível errá-lo. O pneu traseiro começou a pegar fogo atingido por um dos disparos.

  – Eles estão com a pistola, surpreendeu-se um dos soldados.

  Sombria já ia recomeçar o ataque quando ouviu a mesma voz grave do saguão, na outra extremidade do beco.

  – Cessar fogo, cessar fogo.

  Loki não foi atingido por nenhum tiro mas fragmentos de concreto deixaram seu rosto cheio de arranhões.

  – Aqui  é o capitão Mason Lewis do 33° esquadrão das forças especiais do Exército Especial – continuou, apontando o fuzil convertido beco adentro. – Essa arma que vocês têm em mãos é uma propriedade do Centro de Comando da cidade de Silvon do Norte. Coloquem-na no chão e saiam com as mãos na cabeça.

  Loki olhava para Sombria com sorriso no rosto ferido.

  – Quanta formalidade meu chapa. Você sempre se apresenta assim para as pessoas antes de matá-los feito porcos?

  – Vocês não tem ideia no que se meteram. Vamos saiam logo daí antes que eu perca a paciência.

  – Está perdendo seu tempo parceiro, prefiro morrer com as mãos no meu fuzil do que com as mãos na cabeça.

  Sombria sussurrou um “calma”, encolhida na parede. Ele recrutou no mesmo tom com “alguma ideia?”. Sim, ela tinha uma ideia, mas não era das suas melhores.

  – Capitão eu tenho uma proposta pra você – falou ela, a voz firme.

  – Proposta? – ele riu com sarcasmo – Vocês acham que estão condições de propor alguma coisa?

  – É bem simples: ou vocês abrem caminho e nos deixam ir embora, ou eu explodo essa célula de plasma e todos aqui viram cinzas.

 A gargalhada do capitão Mason ecoou pelo beco fétido como se Sombria tivesse contado a piada mais engraçada que ele já ouvira.

  – Fazer uma dessas células entrar em fusão não é tão fácil como detonar uma granadinha de fumaça garota.

  – Eu tinha em mente algo menos científico. O que acontece se uma dessas baterias levar um tiro? Porque eu estou apontando a minha arma para ela agora.

  Ela encostou o cano do SCAR na célula que ainda emitia o brilho esverdeado. Apesar da real ameaça de ser desintegrado em alguns instantes, Loki se divertia com a situação.

 – Quer um conselho capitão? – Perguntou ele olhando para cima para que a voz ecoasse mas alto pela viela. – É melhor fazer o que ela está pedindo. Essa garota tem mais culhões que todos nós juntos.

  Mason fechou a cara. Estava em uma situação difícil. Não podia arriscar perder a célula por causa de um grupinho de saqueadores metidos a badboys.

  – Você tem muita coragem garota e deve ser esperta, deve ter percebido que essa arma é diferente das outras armas convertidas. Eu não dou mínima se vocês fugirem, mas a pistola vai ter que ficar.

  – Por mim tudo bem, mas eu vou garantir que, como meu amigo aqui disse, não sejamos mortos feito porcos assim que soltarmos essa pistola. Abram caminho.

  – Larry, tira esse jipe daí – ordenou o capitão.

  Assim que ouviu o veículo se arrastar com o pneu derretido, liberando a saída do beco, Sombria e Loki deixaram suas coberturas. Ela andando de costas para o jipe e encarando o capitão, ainda com o fuzil colado na bateria brilhante; ele apontando para o soldado na .50 e nos outros dois ao lado do carro.

  O plano de Sombria era promissor. Depois que saíssem do beco teriam uma estrada longa até chegarem em ruas mais estreitas. Ela manteria aquela chantagem até estarem a uma distância razoavelmente segura, largaria a pistola no chão e correria em direção as motos. Com certeza tentariam segui-los, mas aquele jipe não iria longe sem uma das rodas.

  Quando saíram do beco não se sentiram mais confortáveis com o amplo espaço da pista de mão dupla por onde caminhavam. Apesar de a metralhadora montada estar com o cano abaixado, ainda estava na direção dos dois.

  – Deixem a pistola aí e sumam da minha frente. – Grunhiu o capitão juntando-se ao outro grupo de soldados.

  – Calma lá, espertinho – falou Loki – preferimos manter uma distância maior.

  – Quando eu me livrar dessa coisa é melhor estar preparado para correr – sussurrou Sombria.

  – Nem precisa avisar gata.

  Quando finalmente chegaram na entrada da ruela, Sombria jogou a pistola por cima do muro mais próximo e recomeçou a correria desesperada por sua vida.

  – Matem os dois! – esbravejou Mason assim que a garota largou a arma.

   A metralhadora despertou ainda mais furiosa do seu sono, suas balas foram acompanhadas pelos disparos de plasma que só atingiram as paredes onde, um quarto de segundo atrás, estavam os fugitivos.

  – Ainda se lembra onde estão as motos, Loki? – Ela perguntou vendo que estavam em um complexo labirinto de ruas.

  – Tá de sacanagem? Você acha que eu esqueceria onde deixei meus bebês? Por aqui. Vamos.

  Sombria deixou que ele tomasse a dianteira. Nenhum dos dois conhecia aquela área, mas, isso não impedia que Loki se movesse pelos becos como se tivesse crescido ali. Se tinha uma coisa de que se orgulhava era do seu senso de direção.

  O que deixava Sombria tensa era a possibilidade de caírem na mesma armadilha de antes. Eles provavelmente tinham rádios e conheciam bem a área, se os emboscassem de novo, era morte certa. Pelo menos tinham uma boa vantagem na corrida.

  Depois de várias esquinas, subindo e descendo pequenos lances de escadas, Sombria teve a impressão de terem se entranhado demais naquele conglomerado de caminhos, mas só sentiu alívio quando saíram em uma rua principal e reconheceu a casa com uma das paredes destruídas, onde haviam guardado as motocicletas cobertas por uma lona.

  Nenhum sinal de qualquer boina azul.

  – Acha que eles desistiram? – perguntou Loki enquanto puxava a lona das motos.

  – Espero que sim – falou ela olhando para a rua com o fuzil em riste. –  Joguei a pistola o mais longe que pude, devem estar procurando.

  – Muito bem, cada qual para um lado agora. Nos encontramos na saída da cidade. Esse trabalho foi uma merda, mas, pelo menos, foi divertido.

  – Você é doente – disse ela enquanto colocava o capacete.

  Os motores roncaram cuspindo fumaça preta pelos escapamentos enquanto os dois seguiam caminhos opostos para dificultar serem seguidos.

  Sombria seguia por uma grande avenida em direção ao oeste a fim de tomar a interestadual e sumir o quanto antes daquele lugar, desviando de alguns carros abandonados na estrada. Olhou para o retrovisor. Viu algo voando por cima de um prédio alto, era pequeno o suficiente para ser confundido com um pássaro, mas estava parado no ar e a observava com um olho de vidro refletindo a luz do sol.

  “Um drone?”, foi tudo que conseguiu pensar antes de sentir a moto ser detida tão bruscamente que ela foi lançada vários metros a frente. Ela deslizou pelo asfalto quente até se chocar contra um utilitário que descansava ali como um animal adormecido.

  Sombria ainda pôde ver, pelo visor rachado do capacete, a moto com a roda dianteira retorcida e o óleo vazando do motor como o sangue que escapava dos seus ferimentos. Viu também o cabo de aço que cruzava a avenida usado para derrubá-la e os dois soldados do Exército Especial que se aproximavam com sorrisos sádicos nos rostos.

  – Exatamente onde o capitão disse que ela sairia – falou um deles – e essa vaca ainda tá viva, olha só.

  – E não é pra morrer mesmo. Amarra ela.

  Zonza, Sombria tateou em volta procurando seu SCAR. Era inútil, a arma havia voado ainda mais longe apesar de estar presa às suas costas. Sua visão escureceu quando mãos fortes e suadas agarraram seus braços, o capacete foi arrancado e ela não pôde mais lutar. Desmaiou.

 

* * *

 

  A onda de frio que cobriu o corpo de Sombria foi tão forte que quase arrancou-lhe a alma. Estava mergulhada em uma escuridão tão profunda que quando abriu os olhos pensou estar em outro mundo, pensou que fora levada pelos aliens para sua morada em algum planeta distante na galáxia, não pôde imaginar pesadelo pior. Mas quando, finalmente, seus olhos se adaptaram à luz que entrava pelas janelas, viu que estava deitada no chão do que um dia fora um escritório, cercada por homens comuns, nada de ets assassinos. Armas convertidas, os soldados de boina azul, a queda da moto. As memórias retornaram todas de uma vez como se ela tivesse vivido outra vida e aquelas lembranças fossem de outra pessoa.

  Um dos soldados segurava um balde velho com o qual acabara de jogar água, fétida e gelada, sobre a cabeça da garota. Tentando sugar o ar com desespero após ser encharcada, Sombria tossiu. Tentou levar as mãos ao rosto por instinto, mas percebeu que elas estavam atadas às costas.

  – Acorde garota, e mostre aquela coragem que você tinha quando estava disposta a matar todos nós.

  Ela conhecia aquela voz, ainda estava um pouco atordoada mas pôde distingui-la bem. Mason. Tentou levantar a cabeça que estava colada no chão mas não conseguiu se virar, alguns fios de cabelo molhado caíram sobre os olhos atrapalhando a visão.

  – Coloquem-na encostada na parede – ordenou capitão.

  Dois soldados a arrastaram e a puseram sentada contra a parede. Os movimentos bruscos ressuscitaram a dor dos ferimentos de Sombria. Sentiu o tórax queimar por dentro, com certeza tinha algumas costelas quebradas, além dos diversos cortes nos braços e pernas. A cabeça foi poupada, graças ao capacete.

  O capitão Mason aproximou-se e agachou na frente da cativa. Afastou delicadamente o cabelo que cobria a vista de Sombria e, por fim, disse:

  – Podemos conversar agora?

  Ele se levantou, cruzou os braços nas costas e principiou seu interrogatório.

  – Qual é o seu nome?

  – Acho que já esqueci – respondeu ela, sua voz saiu rouca – a muito tempo não o uso. Mas pode me chamar de Sombria.

  – Que fofo. Mason sorria irônico. Sabe o que você e seu grupo de degenerados estava tentando roubar?

  Tentando esquecer a dor, Sombria analisou o local a sua volta. As janelas eram grandes mas estavam todas quebradas, por elas pôde ver que deviam estar no segundo andar de um prédio qualquer. Dois soldados seguravam seus fuzis ao lado dela, um terceiro guardava a única saída. Dessa vez ela não alimentou esperanças de sair dessa viva.

  – Uma pistola convertida – falou encarando os olhos do capitão – algum protótipo, eu diria.

  – Isso mesmo. Aquela arma possui uma célula de plasma muito especial. Os catadores que você e seu grupinho mataram conseguiram, por acidente, deixar aquela célula ainda mais letal. Eles propuseram uma troca por uma quantidade absurda de suprimentos.

  – Eu imagino que valha a pena – falou Sombria cuspindo sangue no chão.

  – São merdas como você e aqueles catadores que atrasam essa guerra, continuou irritado, eles deveriam nos entregar de bom grado aquela arma e ajudar a vencer esses monstros, e não barganhar como se nada tivessem a ver com isso tudo. E depois, aparece uma escória ainda pior e mata todos eles a sangue frio simplesmente para roubar.

  – Não sabíamos nada sobre isso. Só estávamos atrás de algumas baterias bomba.

  – É um pouco tarde para desculpas. E no final das contas vocês me fizeram um favor eliminando aqueles lixeiros nojentos. Não daríamos uma lata sequer de comida para eles. As ordens do alto-comando eram de pegar a pistola para análise e matar todos que soubessem dela. – Ele agachou de novo, dessa vez mais perto. – Seu amigo de sorriso fácil sabe dela e você vai me dizer onde eu vou encontrá-lo.

  Sombria entendia agora por que um esquadrão das forças especiais fora enviado para pegar o que parecia ser uma simples pistola convertida.

  – O que você acha que ele vai fazer com essa informação? – perguntou intrigada – ele provavelmente nunca mais vai chegar perto dessa cidade de novo.

  – Você sabe por que a arma do milagre funcionou garota? Por que os aliens não esperavam aquilo. Foram pegos de surpresa. E como consequência ficaram mais cautelosos colocando a segunda nave fora do alcance de qualquer míssil que temos. Mas, e se construíssemos um míssil capaz de alcançá-los? Aquela célula é a chave para isso. Agora respondendo a sua pergunta. Não podemos nos arriscar que essa informação vaze. Não vou deixar pontas soltas.

  – Podem me chamar de muita coisa capitão Mason, mas não de traidora.

  – Será que não vê garota? – esbravejou o homem – se os aliens descobrirem sobre aquela célula perderemos a única chance de vencer esta guerra.

  – Desde que o EE está no poder, vocês se iludem e iludem as pessoas com essa história de vencer a guerra – agora era Sombria quem gritava colocando anos de repressão e medo pra fora – a arma do milagre não teve nada de milagre, foi pura sorte. Não podemos vencer essa guerra!

  O tapa que Mason deu com sua enorme mão, fez a cabeça de Sombria bater na parede com força abrindo um corte no único lugar de sua fisionomia ainda intacta.

  – Cadela! Soldados morrem todos os dias tentando livrar o planeta daquelas pragas do espaço… – ele respirou fundo – matem-na, ela não vai dizer nada.

  O soldado a sua esquerda sacou uma pistola e apontou para a testa da garota. Ela fechou os olhos esperando o disparo.

  E ele veio… PAAAÁ!

  Mas Sombria não sentiu dor além dos ferimentos que já tinha.

  “Já estou morta?”

  – ATIRADOR! – gritou o soldado perto da porta.

  Sombria abriu os olhos tentando entender o que estava acontecendo e viu o militar com pistola caído no chão sem metade do rosto. O capitão Mason se jogou no chão e todos os outros o imitaram. Outro tiro abriu um buraco em uma das paredes, possivelmente vindo dos edifícios próximos. Logo depois ela ouviu o som característico dos disparos de plasma do lado de fora revidando fogo. Essa era sua chance.

  Enquanto o capitão e seus subordinados tentavam encontrar a origem dos tiros, Sombria impulsionou-se para frente e rastejou até a porta. Mais tiros, motores de carro e vozes gritando ordens. Sombria conseguiu se levantar e correu até a porta sob fogo pesado, conseguiu abri-la jogando o peso do corpo contra ela, perdeu o equilíbrio e caiu no corredor, felizmente os tiros não a alcançariam ali.

  – São os catadores do acampamento capitão – gritou uma voz no rádio preso no peito de Mason – deve haver pelo menos dois atiradores nos prédios e tem uns quinze deles aqui embaixo com furgões e motos.

  – Como ninguém viu isso? – Perguntou Mason deitado em baixo da janela – Use o drone e encontre os atiradores, estamos encurralados nessa maldita sala.

  Sombria já descia o segundo lance de escadas quando viu uma placa indicando a direção do saguão, os tiros estavam mais altos agora então deduziu que ficaria no meio do tiroteio se seguisse por ali. Continuou descendo. No andar de baixo encontrou a porta cheia de buracos de bala onde tinham matado o oficial do EE algumas horas antes.

  “Eles me trouxeram para o mesmo prédio”

  Seguiu pelo caminho que agora já sabia que dava para o estacionamento. A destruição causada pela granada de Gárgula estava lá mas o corpo dele não, lamentou que já o tivessem removido – planejava recuperar o canivete que ele levava no bolso para cortar as cordas que a prendiam. É difícil correr com as mãos amarradas nas costas e com tantos ferimentos pelo corpo.

  Ela foi cautelosa ao chegar na rampa de saída e olhar para rua que virou um campo de batalha. Corpos esburacados jaziam ao lado de furgões pretos, reforçados com placas de metal na tentativa de criar uma blindagem contra as armas convertidas, o que se mostrou completamente inútil pois os veículos estavam tão perfurados quanto os cadáveres no chão. Os que ainda estavam vivos conseguiam manter fogo intenso sobre os militares.

  “Ótimo, eles estão bastante ocupados.”

    Sombria visualizou o caminho à frente e percebeu que tinha um grande problema: não conseguiria pular o muro com as mãos nas costas, e o portão principal não era uma opção. Teria que dar um jeito de, pelo menos, colocar os braços na frente do corpo.

  Ela deitou no chão e dobrou as pernas junto ao tórax, o movimento arrancou-lhe um gemido de dor. Começou a forçar as mãos para que passassem por baixo do quadril como uma contorcionista de circo, a pressão foi tanta que a corda afundou-se na sua pele. Ignorou a sensação de ter mil facas incandescentes no peito causada pelas fraturas nas costelas até finalmente conseguir passar as mãos para frente.

  Sombria não estava livre das amarras, mas já sentia mais liberdade nos movimentos, pelo menos agora conseguiria transpor o último obstáculo entre ela e sua liberdade. Depois, longe daquela confusão, daria um jeito de cortar as cordas e sumiria daquela cidade.

  Ela moveu-se rápido até o muro escalando-o com dificuldade, o cansaço e a dor faziam a parede parecer maior do que da última vez. Desequilibrou-se e caiu do outro lado. Viu estrelas quando seu joelho bateu violentamente na calçada. Tentou se levantar e continuar a fuga mas a perna machucada vacilou e a devolveu ao chão, não conseguia ficar de pé. Ela arfava de exaustão.

   “Não posso morrer aqui. Não posso morrer aqui.”

  Sombria tentava se arrastar até o outro lado da rua quando ouviu o barulho de um motor se aproximando, um motor de moto. Achou que fosse outro grupo de catadores que chegava para dar reforço ao combate. Ela amoleceu o corpo e fingiu-se de morta na esperança de ser confundida com mais uma das baixas da batalha.

  O barulho chegou perto. A motocicleta diminuiu a velocidade e parou bem próximo dela. Ela ouviu que alguém descia.

  – Sombria! Sombria, ainda está viva? – Disse Loki se ajoelhando ao seu lado.

  Ela permaneceu imóvel por alguns segundos até processar o que acontecia: Loki voltou para resgatá-la?

  – O que faz aqui? – falou ela enquanto ele cortava as amarras.

  – Você achou mesmo que eu ia te deixar com uma das minhas motos?

  Sombria quase sorriu.

  – Pois é melhor esquecer, seu bebê virou sucata.

  Loki a ajudou a ficar de pé e guiou-a até a garupa da motocicleta.

  – Tem forcas para se segurar sozinha? – perguntou ele.

  – Acho que sim. Como sabia que eu estava aqui?

   – Eles tentaram me capturar também – explicou ele montando na moto – e como você não apareceu, imaginei que tivessem te trazido pra cá. No caminho dei de cara com o comboio de catadores vindo daquele acampamento. Eles não me viram, e como estavam vindo na direção desse prédio, fortemente armados, resolvi deixar que fossem na frente talvez pudesse usá-los para criar algum tumulto.

  – Não devíamos ter nos metido nisso, Loki. Aqueles catadores tem contas a acertar com os boinas azuis. E a pistola que tentamos roubar, aparentemente, pode definir a guerra contra os aliens.

  Loki colocou o capacete e deu a partida.

  – Ha, ha! Quantas vezes já ouvimos isso, gata?

  Ele deu meia volta e mergulhou a motocicleta nas ruelas sujas da cidade. O sol preparava-se para findar mais um dia e o tiroteio continuava. Meses depois aquela área foi invadida pelos aliens que perpetraram grandes batalhas contra as forças de resistência. Procuravam por algo. A guerra estava longe de terminar.

Fim.

 

 

Imagem meramente ilustrativa enviada pelo autor.

Um comentário em “Sombria – Um conto de Glecio Ramos

  1. Publisher
    3 de setembro de 2020

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Publicado às 23 de agosto de 2018 por em Contos, Contos de Ficção Científica e marcado , .

A saga de um andarilho pelas estrelas

DIVULGAÇÃO A pedido do autor Dan Balan. Sinopse do livro. Utopia pós-moderna, “A saga de um andarilho pelas estrelas” conta a história de um homem que abandona a Terra e viaja pelas estrelas, onde conhece civilizações extraordinárias. Mas o universo guarda infinitas surpresas e alguns planetas podem ser muito perigosos. O enredo é repleto de momentos cômicos e desconcertantes que acabam por inspirar reflexões sobre a vida e a existência. O livro é escrito em prosa em dez capítulos. Oito sonetos também acompanham a narrativa. (Editora Multifoco) Disponível no site da Livraria Cultura, Livraria da Travessa, Editora Multifoco. Andarilho da estrela cintilante Por onde vai sozinho em pensamento, Fugindo dessa terra de tormento, Sem paradeiro certo, triste errante? E procurar o que no firmamento, Que aqui não encontrou sonho distante Nenhum outro arrojado viajante? Volta! Nada se perde com o tempo... “Felicidade quis, sim, encontrar Nesse vasto universo, de numerosas, Infinitas estrelas, não hei de errar! Mas ilusão desfez-se em nebulosas, Tão longe descobri tarde demais: Meu amor deste lugar partiu jamais!”

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Bom dia.
Aproveito este espaço para divulgar o livro da escritora Melissa Tobias: A Realidade de Madhu.

- Sinopse -

Neste surpreendente romance de ficção científica, Madhu é abduzida por uma nave intergaláctica. A bordo da colossal nave alienígena fará amizade com uma bizarra híbrida, conhecerá um androide que vai abalar seu coração e aprenderá lições que mudará sua vida para sempre.
Madhu é uma Semente Estelar e terá que semear a Terra para gerar uma Nova Realidade que substituirá a ilusória realidade criada por Lúcifer. Porém, a missão não será fácil, já que Marduk, a personificação de Lúcifer na Via Láctea, com a ajuda de seus fiéis sentinelas reptilianos, farão de tudo para não deixar a Nova Realidade florescer.
Madhu terá que tomar uma difícil decisão. E aprenderá a usar seu poder sombrio em benefício da Luz.

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