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O andarilho LXIX e o planeta horror


— Sinceramente, Daimas, não sei do que você tanto reclama? Até ontem me disse que se sentia perdida dentro da Imperius Glatus. — Khuon Ho olhou para sua comandante com ares de desconfiança. — Sabe muito bem que nos mandariam procurar em outra direção e jamais descobriríamos o que aconteceu ao andarilho LXIX.

Daimas Kai ainda estava desconfiada das reais intenções de seu piloto. Não era a primeira vez que ele tentava ficar a sós com ela. Desde que Tuxon Kai partiu em missão de pesquisa, Khuon se mostrava disposto a ajudá-la, muitas vezes se tornando pegajoso. Uma vez ela perguntou qual o interesse real que ele tinha, visto que sabia que ela era ligada a Tuxon desde a escola de aprendizagem. O piloto respondeu com evasivas, então o avisou que não faria sexo com ele. Eram apenas tripulantes de mesmo andarilho, só isso.

Olhou-o de soslaio mais uma vez e tocou a mão esquerda no desfragmentador e quase sorriu ante a possibilidade de atirar nele. Não exitaria em fazê-lo se a aborrecesse de verdade.

— Pois bem — disse olhando seu piloto — vamos em frente e se por acaso alguém da área de descobrimentos da Imperius Gatus perguntar sobre a mudança de rota, diga que eu determinei.

Khuon olhou para sua comandante e não permitiu nenhuma sombra que fosse de um sorriso brotasse de seus lábios. Com tantas mulheres de sua casta a bordo do Imperius Glatus, ele se interessou justamente por uma de outra casta. Pior, uma mulher da casta de guerreiros e já ligada a outro homem. Além disso ela era sua comandante. Não podia ser pior, pois ela poderia tentar pegar aquela arma e desfragmentá-lo e ninguém a questionaria do por que.

Daimas ainda estava perdida em pensamentos sobre Tuxon quando o alarme de localização captou um sinal fraco de socorro vindo de uma nave da classe andarilhos. Isto acendeu a esperança que seu consorte vivesse. Ela se animou com a possibilidade de ser de um dos modelos antigos. Poderia ser o LXIX, pensou. Virou para o navegador e pediu que seguisse a rota que estava encaminhando ao console.

— Sim, comandante — respondeu o jovem navegador Illon Uk sem ao menos olhar na direção da mulher.

Illon continuou a seguir a rota determinada pela mulher que comandava o andarilho MIX. Ficou observando Daimas e Khuon. Servia com eles a dois ciclos e não se cansava de observá-los. Daimas era ligada a um oficial que desapareceu três ciclos atrás e desde então dedicava parte do seu tempo livre a encontrá-lo.

Illon via claramente a tensão perigosa que havia entre Daimas e Khuon que perpassava de disputa de comando e na maioria das vezes por um claro interesse sexual, de ambas as partes.

Já Khuon era um dos pilotos mais promissores do Imperius Glatus e seu status era de subordinação direta ao Líder da astronave, o que nem ela nem a maioria dos comandantes de andarilhos possuía — acesso direto a um dos nobres de sua espécie. Khuon insistia em estar sempre junto daquela mulher. Poderiam ter solicitado transferência de naves há muito tempo.

Olhou friamente os dois, principalmente Daimas. Tinha ordens para exterminá-la caso tentasse algo contra o piloto. Estava focado no console de navegação quando um sinal chamou-lhe a atenção.

— Achei — falou Illon olhando o console — é um sinalizador.

Procuraram por algum tempo até encontrar o pequeno objeto.

— Traga para dentro — Disse Khuon levantando e se dirigindo a comporta por onde entraria a capsula de sinalização.

Daimas procurava esconder a agonia que sentia durante a recepção das informações contidas na capsula de sinalização e isso aumentava sua pressa por informações. Respirou mais aliviada quando confirmou que não havia dúvidas, era o sinalizador do andarilho LXIX.

— Tem certeza que não quer acessar as informações a bordo da nave-mãe? Pode ser prudente voltarmos primeiro ao Imperius Glatus.

Khuon perguntou a Daimas. Naquele momento de agonia e ansiedade, ela voltou a considerá-lo um amigo. Segurou em seus braços e apenas o olhou.

Khuon acenou positivamente e ligou o vídeo analisador para repassar o que aconteceu no último dia do andarilho desaparecido. Estava bem claro que o andarilho LXIX não tinha tripulantes a bordo quando disparou o sinalizador na direção onde estaria a nave-mãe.

— Seja o que for, aconteceu em pouco menos de um dia — Illon falou aos dois oficiais. — Está na forma de relatos da tripulação.

— Pode rodar – falou Khuon.

Primeiro relato

Data espacial NCKGI 497. Faz quase um ciclo que saímos da astronave Imperius Glatus e eu, Kondar Am, primeiro comandante do andarilho LXIX, tenho a satisfação de informar que descobrimos mais uma civilização que podemos escravizar. Este planeta é rico em água, florestas e criaturas vivas que podemos usar a bordo de nossas naves mães e tornar nosso Líder um dos mais prósperos do Império. Estou enviando o tripulante Toudon Si em um pod para uma região aquática e o tripulante Basion Kin em outro pod, para o continente formado de água em forma de gelo. Eu e Tuxon Kai, o segundo comandante, vamos para perto de uma de suas cidadelas, observá-los em suas atividades diárias. É o melhor meio de derrotar aos bárbaros.

Alguns minutos depois, já fora do andarilho, Kondar faz outro relato.

Estou colocando Zixs filmando as atividades de cada um dos tripulantes para melhor informar ao Imperius Glatus.

Terceiro relato

Aqui é Tuxon Kai relatando. O Zixs que estava com o tripulante Bassion relatou que ele foi morto. Pelas filmagens enviadas ele estava em cima do gelo, perto da água salgada, observando um grupo de criaturas que saiam da água quando outra criatura, uma enorme, branca, da cor do gelo, surgiu do nada e o atacou. Era cinco vezes ou mais seu tamanho. Foi horrível. O Zixs mostrou ele sendo devorado pela criatura monstruosa que depois foi embora desaparecendo no continente. Vou alertar ao comandante sobre o perigo que é esse planeta.

Quarto relato

É com tristeza que relato as mortes de Tuxon Kai e Toudon Si. Este maldito planeta é uma armadilha natural. Parece que a vida aqui é uma luta infinita pela sobrevivência, já devíamos desconfiar do fato que a espécie predominante nem de longe é a maior. Perdemos o contato com Toudon e eu pedi que Tuxon fosse até as ilhas onde ele estava.

Não sei o porque, mas o Zixs pessoal de Toudon mostra que ele resolveu despir o traje protetor e nadar em um lugar de águas esverdeadas. Ele andava bem perto da margem quando pareceu pisar em uma criatura marinha que estava escondida na areia, sob o mar. Ele caiu sentado e em seguida começou a gritar de dor. Tentou voltar o mais rápido que podia ao pod, mas nunca conseguiu vencer os poucos metros que os separava.

Tuxon mandou as imagens mostrando uma criatura alada abalroando o Zixs de Touldon, destruindo-o. Ele mandou as imagens, mas quando estava voltando, parou acima do mar e algo gigantesco surgiu de dentro das águas e o engoliu. O monstro horrível tinha ao menos vinte vezes nosso tamanho e era escuro por cima e branco por baixo com dentes medonhos e cruéis.

Quinto relato

Estou indo ao acampamento montado perto da cidadela recolher os equipamentos. Pretendo voltar ao andarilho LXIX e sair o mais rápido daqui.

O piloto e segundo comandante Khuon Ho olhava Daimas Kai nos olhos. Ela deu dois tapas leves no ombro do piloto e uma lágrima escorreu por seu rosto.

Illon viu o abraço demorado trocado entre eles.

— Lamento a perda dos tripulantes do andarilho LXIX disse Illon quase para si mesmo.

Mais alguma coisa, tripulante? — O piloto perguntou com voz inaudível.

— Sim, vou rodar. São imagens.

— É o relato de imagens do Zixs do primeiro comandante. Mostra ele andando por uma trilha escura quando o sol já não estava mais no céu. Uma luz intensa e um ronco alto fizeram com que ele parasse e então um objeto o esmagou contra a trilha deixando-o em pedaços.

— Temos também a última comunicação dos computadores de bordo do andarilho. A única programação que tinha era a de fabricação, quando não captasse os sinais de vida da tripulação. Determinava subir o mais próximo possível do espaço e enviar um sinalizador na direção da nave-mãe. Depois queimar na reentrada.

Illon olhava para Daimas ainda abraçada ao piloto. O que ela fará agora, pensou, será que vai sacar o desfragmentador e tentar nos matar para esconder o fracasso daquele a quem se ligou?

Irá se matar?

O que fará?

Daimas Kai olhou seus dois tripulantes. Atingiu seu propósito que era descobrir o que aconteceu a Tuxon e os outros. Estava muito cansada e decidiu que ia descansar.

— Assuma o comando do andarilho, piloto. Esticou-se no pod/assento — Vou dormir um pouco.

Khuon olhou para Illon. Deu um breve sorriso.

— Avise ao Imperius Glatus que vamos para casa, tripulante. O mais rápido possível.

****

A mulher dentro da caminhonete está cansada e ansiosa para chegar em casa.

Que droga Lucas! Você disse que chegaríamos na cidade ainda de dia, e já escureceu há mais de uma hora.

O homem parecia ainda mais exausto. Dirigia há mais de 10 horas e já não via a hora de chegar em casa, tomar banho, deitar e dormir. Foi quando percebeu algo tentando atravessar a estrada.

Mas o que é aquilo? Margareth, o que é…

Cuidado! A caminhonete passou por cima de alguma coisa — disse ela chateada.

Deus do céu, Lucas. Você atropelou algum bicho.

Não diga, Margareth!

****

Imagem meramente ilustrativa retirada de search images internet. Retirada em 12 01 2012. Nº 163135_1817194114810_1388823893_32037751_2879087_n.

Um conto de Swylmar Ferreira                                                            10 de junho de 2018.

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Publicado em 24 de junho de 2018 por em Contos, Contos de Ficção Científica.

A saga de um andarilho pelas estrelas

DIVULGAÇÃO A pedido do autor Dan Balan. Sinopse do livro. Utopia pós-moderna, “A saga de um andarilho pelas estrelas” conta a história de um homem que abandona a Terra e viaja pelas estrelas, onde conhece civilizações extraordinárias. Mas o universo guarda infinitas surpresas e alguns planetas podem ser muito perigosos. O enredo é repleto de momentos cômicos e desconcertantes que acabam por inspirar reflexões sobre a vida e a existência. O livro é escrito em prosa em dez capítulos. Oito sonetos também acompanham a narrativa. (Editora Multifoco) Disponível no site da Livraria Cultura, Livraria da Travessa, Editora Multifoco. Andarilho da estrela cintilante Por onde vai sozinho em pensamento, Fugindo dessa terra de tormento, Sem paradeiro certo, triste errante? E procurar o que no firmamento, Que aqui não encontrou sonho distante Nenhum outro arrojado viajante? Volta! Nada se perde com o tempo... “Felicidade quis, sim, encontrar Nesse vasto universo, de numerosas, Infinitas estrelas, não hei de errar! Mas ilusão desfez-se em nebulosas, Tão longe descobri tarde demais: Meu amor deste lugar partiu jamais!”

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Bom dia.
Aproveito este espaço para divulgar o livro da escritora Melissa Tobias: A Realidade de Madhu.

- Sinopse -

Neste surpreendente romance de ficção científica, Madhu é abduzida por uma nave intergaláctica. A bordo da colossal nave alienígena fará amizade com uma bizarra híbrida, conhecerá um androide que vai abalar seu coração e aprenderá lições que mudará sua vida para sempre.
Madhu é uma Semente Estelar e terá que semear a Terra para gerar uma Nova Realidade que substituirá a ilusória realidade criada por Lúcifer. Porém, a missão não será fácil, já que Marduk, a personificação de Lúcifer na Via Láctea, com a ajuda de seus fiéis sentinelas reptilianos, farão de tudo para não deixar a Nova Realidade florescer.
Madhu terá que tomar uma difícil decisão. E aprenderá a usar seu poder sombrio em benefício da Luz.

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Oi pessoal, o site EntreContos - Literatura Fantástica - promove novos desafios, com tema variados sendo uma excelente oportunidade de leitura. Boa sorte e boa leitura.

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