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A horda de guerreiros daklugs avançava inexoravelmente, enquanto o perverso Wurdem tentava encontrar alguma forma de escalar o penhasco contra o qual estava encurralado. Os primeiros daklugs estavam agora a não mais de 100 metros de seu odiado inimigo, e este já podia sentir suas auras inflamadas pela excitação da caçada e da vitória eminente. Mas ele não cairia sem lutar!
Virando-se de costas para a parede de pedra e encarando seus perseguidores com uma fúria fria enquanto eles ainda corriam em sua direção, o Wurdem se concentrou, reunindo as energias psíquicas que tinha dentro de si, e disparou uma barragem hipnoclástica. Os vinte ou trinta daklugs mais próximos cambalearam e caíram, agitando espasmodicamente seus tentáculos enquanto suas mentes eram fragmentadas pela enorme força do ataque mental disparado pelo terrível devorador de espíritos. Mas desta vez o Wurdem não conseguiria vencer a batalha tão facilmente, pois os daklugs haviam recebido ajuda de várias outras raças do universo na forma de instruções e reforços mentais, e centenas de outros guerreiros ultrapassaram seus companheiros caídos e continuaram avançando.
A fera acuada soltou um rugido de frustração, amaldiçoando os aliados dos seus inimigos, que os haviam protegido de suas capacidades psíquicas. Quando soubera da destruição dos lufrans e da queda de Jalamon, e tomara consciência de que agora ele era o último Mal existente em todo o universo, o Wurdem não se importara muito, pois confiava em seus enormes poderes e acreditava que a derrota dos outros não o afetaria tanto. Mas ele não contara com o efeito do apoio da aliança dos povos do Bem sobre a capacidade de defesa de suas vítimas daklugs, o que era de se esperar já que os seres do Mal não dão muita importância para estas questões de cooperação e apoio mútuo. Não ocorrera a ele que, livres da opressão de outras forças malignas, os povos do Bem poderiam voltar seus esforços para ajudar os demais que ainda não tivessem se livrado do Mal, e agora ele finalmente percebia o quão terrível era estar sozinho em todo o universo. Ninguém viria em sua ajuda, nenhuma mente se abalaria por saber de sua destruição, e ele finalmente percebia como o conhecimento deste fato drenava sua energia mental e o tornava fraco perante seus inimigos.
Sua visão enevoou-se por um momento, sob o ataque telecinético dos primeiros guerreiros do inimigo que já chegavam à distância na qual seus fracos poderes poderiam afetá-lo. Mas rapidamente ele ergueu um bloqueio contra as mentes daquelas criaturas que considerava inferiores e aguardou que chegassem mais perto, antes de tentar sua última cartada. Quase quinhentos daklugs corriam em sua direção agora, e ele avaliou que caso conseguisse se concentrar poderia abater pelo menos metade deles com um último ataque hipnoclástico, antes que as forças telecinéticas reunidas do inimigo pudessem romper sua barreira mental. Depois ele poderia utilizar suas próprias garras e dentes para atacar os inimigos restantes, e abrir uma brecha por onde pudesse escapar. Mas para isso eles teriam que chegar mais perto.
Nos instantes seguintes os guerreiros daklugs continuaram se aproximando em alta velocidade da grande fera, exatamente como ela estava esperando. Mas então algo aconteceu. Ao invés de continuar correndo para ele, os inimigos começaram a se amontoar a uma distância de cerca de 50 metros, formando um grande semicírculo em volta do Wurdem. Ele olhou ao redor sabendo o que estava acontecendo e tentando ver de onde vinha a sua perdição. Alguém estava lendo sua mente, e avisara os daklugs o que ele estava planejando! Era mais uma ação dos aliados de seus inimigos visando garantir a sua destruição!
Ele soltou outro urro horrendo de ódio e frustração, mas os daklugs não se abalaram com o som que em outras eras seria o suficiente para enregelar os seus espíritos. Continuaram a se agrupar no grande semicírculo, e o Wurdem percebeu que estava perdido. Já sentia a força telecinética dos inimigos pressionando seu bloqueio mental, e sabia que não poderia aguentar por muito mais tempo. Em desespero ele disparou seu último e mais potente ataque hipnoclástico, mas os guerreiros inimigos apenas cambalearam um pouco e logo voltaram a se aprumar. A proteção estendida sobre eles por seus malditos aliados das forças do Bem estava cada vez mais forte.
E então sua barreira mental desmoronou. O esforço de sua última tentativa de ataque drenara as energias espirituais que ainda lhe restavam, e o Wurdem não conseguiu mais suportar os impulsos paranormais de seus inimigos. As forças telecinéticas concentradas de quase meio milhar de daklugs apanharam seu corpo agora desprotegido e o arremessaram contra o penhasco, com uma força tamanha que despedaçou seus órgãos internos e quebrou a maioria de seus ossos. O cérebro da grande fera começou a ser esmagado, sua mente entrou em colapso, e um segundo mais tarde o último ser maligno da criação havia deixado de existir. O universo inteiro agora era um lugar de paz e harmonia totais, pois o Mal finalmente, após eons de lutas, dores e lágrimas, havia sido completamente derrotado!
Então os guerreiros daklugs olharam uns para os outros com os tentáculos trifurcados caídos molemente ao redor de seus corpos cilíndricos, cansados da perseguição e confusos. Eles sabiam que deveriam estar exultantes com a vitória final do Bem sobre o Mal em todo o universo, mas sentiam apenas uma difusa sensação de dever cumprido. Deviam estar contentes, imaginando seu maravilhoso futuro livres do medo e do terror, mas simplesmente não tinham mais imaginação para exercitar. Alguns ainda olharam para o alto a tempo de ver as estrelas se apagando, e nenhum deles teve consciência de que seus corpos estavam desaparecendo juntamente com todas as demais entidades do universo, que estava deixando de existir!
* * *
-Muito bom, esta foi mais uma vitória minha, três a dois agora certo?
-Tudo bem, você virou, mas não esqueça que é uma melhor de cinco. Quer começar outra agora ou prefere fazer um intervalo.
-Não, vamos iniciar outra já, quero aproveitar a animação. Você quer começar?
-Não, você faz isso bem, comece você.
-Então está certo, lá vai: HAJA LUZ…
XADRES